Educação

SP remaneja alunos para escola 4 km distante, sem diálogo com pais nem direito a transporte

O remanejamento foi anunciado em 20 de dezembro, após a interdição do acesso ao colégio para obras de infraestrutura

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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A Escola Estadual Dr. Alarico da Silveira, que fica na Barra Funda, em São Paulo, tem aproximadamente 250 alunos - Facebook/EE Dr Alarico Silveira

Cerca de 100 pais estão protestando contra o remanejamento de seus filhos da Escola Estadual Dr. Alarico da Silveira, na Barra Funda, zona oeste de São Paulo, para a Escola Estadual Benedito Tolosa, na Casa Verde, na zona norte da cidade. A unidade oferecida pela Secretaria de Educação do estado fica a 4,4 quilômetros de distância, sem direito a transporte para os alunos com mais de 12 anos, que formam a maioria dos estudantes. 

O remanejamento foi anunciado em 20 de dezembro, após a interdição do acesso ao colégio para obras de infraestrutura. De acordo com a Secretaria, a previsão é que as obras de reforma da escola terminem até o final deste ano. A escola tem aproximadamente 250 alunos. Entre as duas escolas está a Marginal Tietê, uma das vias mais movimentadas da cidade.

Segundo Rogério Tenório, pai de três estudantes do Alarico da Silveira, problemas como rachaduras, infiltrações e afundamento de piso vêm sendo denunciados desde pelo menos o início da pandemia. Somente agora, três anos depois, a Secretaria de Educação de São Paulo deu início às obras. Inclusive, uma das reclamações o governo não aproveitou o período de pandemia, quando os alunos não estavam na escola, para realizar as obras.  

Em novembro de 2020, a direção da escola chegou a interditar o acesso dos estudantes a alguns espaços, como duas salas de aula, cozinha, uma quadra de esportes e outras partes do pátio, devido ao risco de desabamento. Na ocasião, a Fundação para o Desenvolvimento da Educação (FDE) realizou uma vistoria, no mês de junho, que constatou a impossibilidade do acesso a esses espaços. O deputado estadual Carlos Giannazi (PSOL) levou o tema à tribuna da Assembleia Estadual de São Paulo (Alesp), em 23 de novembro de 2021. 

"Nós já estamos no final de novembro. O ano letivo logo começará e até agora nada foi feito", afirmou Giannazi (PSOL). "A escola está praticamente desabando, mas mesmo assim vai fazer parte da grande vitrine que Doria está preparando para a próxima campanha eleitoral. (...) "Esse é o marketing mentiroso de Doria. Uma escola sem a mínima infraestrutura terá sua imagem vendida como se fosse um exemplo de qualidade de ensino."

Tenório afirma que quando os problemas se intensificaram, as aulas não passaram a ser online imediatamente. "Tem até fotos de alunos estudando quando as rachaduras mais intensas apareceram", relembra. "Quando entrou 2020, o problema se tornou muito grave, com rachaduras muito grandes, afundamento de piso e aí percebeu-se que a situação tinha que ser vista urgentemente. Na época, um engenheiro disse que realmente não tinha mais condições das crianças ficarem lá na escola", explica Tenório. 

Mudança sem diálogo 

Os responsáveis pelos alunos reclamam principalmente que a escolha por uma escola distante não envolveu diálogo com os alunos e pais de ambos os colégios. "Nós fomos informados que os alunos seriam removidos para outra escola. Só que nós esperávamos que essa escola fosse nas imediações aqui do bairro mesmo. Mas é uma escola na Casa Verde", afirma Tenório, que faz parte da comissão de pais e alunos das escolas Dr. Alarico da Silveira e Benedito Tolosa. 

"Foi uma decisão tomada sem nenhum diálogo. Foi isso que nos deixou muito afrontados, porque a mudança já havia sido decidida em setembro do ano passado. Mas não se faz uma reunião? Não se conversa com os pais? Não se dá uma outra opção? A gente não foi consultado?", questiona Tenório. 

"Nós temos diversos pais com diversos problemas com essa questão de mudança de endereço da escola, porque a distância é muito grande para mandar os alunos a pé. É muito cansativo para eles. Tem que caminhar por mais de meia hora atravessando pontes, marginal, rodovias", diz.  

"Muitos dos pais não estavam preparados para mandarem os filhos de condução, transporte público, porque ainda não tinham treinado os filhos pra isso. Outros pais não possuem ainda bilhete de transporte. Outros pais têm outros tipos de dificuldades, filhos doentes, filhos que não podem estar saindo sozinhos", afirma Tenório. 

Soma-se ao cenário de ausência de diálogo as condições adversas de remanejamento, como a ausência de transporte, que é a reivindicação mais imediata dos pais. "O que a gente está querendo pleitear de imediato é que pelo menos a Secretaria de Educação nos fornecesse um transporte para facilitar a situação. Mas pelo que eles estão nos falando, isso não vai acontecer."

"Nós estamos pleiteando que seja levado em consideração o fato de que houve uma circunstância extraordinária e a gente queria uma solução extraordinária, um transporte pelo menos levando essas crianças e trazendo elas de volta", afirma Tenório. 

Outro problema é que enquanto as aulas na Escola Estadual Dr. Alarico da Silveira funcionam em período integral, na Escola Estadual Benedito Tolosa, apenas em meio período. "E esses pais que os que puseram no Alarico porque era período integral? Como é que eu vou fazer agora com esses filhos em meio período? E esses pais que não podem arcar com transporte pessoal, se eles tiverem que levar os filhos e trazer e acompanharem? Tem várias questões aí que não foram levadas em consideração", lamenta o pai dos três estudantes. 

Outro lado 

O Brasil de Fato solicitou um posicionamento sobre a situação à Secretaria de Educação de São Paulo e aguarda um retorno. 

Edição: Thalita Pires