A jornalista Kariane Costa assumiu nesta segunda-feira (16) a presidência da Empresa Brasil de Comunicação (EBC). Funcionária concursada da empresa, ela chegou a ter demissão "por justa causa" determinada pela diretoria anterior, no momento mais tenso de uma perseguição da gestão bolsonarista da empresa contra ela e o todo o corpo de funcionários.
Emocionada, ela afirmou, durante a cerimônia em que assinou o termo de posse, que a nomeação é o reconhecimento aos profissionais da casa. Na época do processo que culminou com a decisão de demiti-la, Kariane era representante eleita pelos funcionários no Conselho de Administração (Consad) da EBC e denunciou episódios de assédio à Ouvidoria interna. O processo de demissão foi revertido após pressão dos colegas de empresa, de entidades sindicais e de outros setores da sociedade.
"Fui vítima de uma perseguição covarde, que não encontrava nenhuma base legal. Minha demissão, sem qualquer motivo real, tornou-se possibilidade completa, quase inevitável. Foram semanas, noites mal dormidas, reuniões com advogados. Mas não estava sozinha. Tive apoio amoroso do corpo de funcionários da EBC", lembrou a agora presidenta da empresa.
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O evento de posse, na sede da EBC, em Brasília, reuniu dezenas de empregados e empregadas, que aplaudiram a fala da colega que assume a cadeira mais importante da estatal. Kariane prometeu trabalhar para que a empresa sirva para dar espaço a pessoas marginalizadas pela mídia comercial, como negros e negras, quilombolas, indígenas e pessoas LGBTQIA+.
"Vocês vão encontrar trabalhadores e trabalhadoras ansiosos, cheios de vontade de reconstruir essa empresa. Hoje é um dia especial não só para mim. É o dia do renascimento de um projeto de comunicação pública iniciado em 2007 e interrompido pelo golpe", complementou a jornalista.
Além de Kariane, a equipe de transição da EBC contará com outras quatro mulheres em posições-chave: a também jornalista concursada da casa Juliana Cezar Nunes; a ex-presidenta do Conselho Curador da empresa (extinto ainda no governo de Michel Temer - MDB) Rita Freire; e as jornalistas Nicole Briones e Flávia Filipini, indicadas pela equipe do ministro da Secretaria de Comunicação da Presidência, Paulo Pimenta.
"As palavras da Kariane já mostraram todo o desafio que temos. Me emocionei ao chegar aqui, por perceber que a EBC está assumindo seu destino. Percebendo que trabalhadoras e trabalhadores têm o projeto de comunicação pública como prioridade. Trago aqui a força, o carinho e o apoio de um Conselho Curador cassado", destacou Freire, lembrando que as intromissões na EBC, poucos dias após o golpe que afastou a presidenta Dilma Rousseff (PT), estiveram entre as primeiras medidas de Temer após assumir interinamente a presidência.
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Paulo Pimenta prometeu um processo de transição "democrático, transparente e com diálogo". Ele afirma contar com os funcionários concursados para definir "um projeto de futuro" para a EBC, e agradeceu ao coletivo dos trabalhadores e trabalhadoras da empresa pela "resistência".
"Votar em 'A' ou 'B' faz parte da democracia. O que nos interessa é o lado que as pessoas estão, no compromisso com a Constituição Federal, com a empresa pública. O que nos divide, não é a eleição. O que nos divide é o lado que as pessoas ficaram no dia dos atos criminosos contra a democracia", disse o ministro aos funcionários da empresa.
Edição: Nicolau Soares