atos golpistas

Análise | Não há anistia possível com quem não tem a menor disposição de conciliação

Investigar, identificar e punir: intenção dos golpistas passa pela manutenção de um clima de conflito e instabilidade

Brasil de Fato | Recife (PE) |
Atos em defesa da democracia foram realizados em diversas cidades do país - Juliana Barbosa / MST-PR

Hoje em dia tento evitar, ao escrever, o uso de muitos adjetivos. Acredito que seja pela influência dos amigos, que me ajudam por vezes na revisão dos escritos, ou até pelo hábito adquirido durante o mestrado. A despeito disso, não há como olhar para tudo que aconteceu neste 8 de janeiro em Brasília e não imaginar uma coluna repleta de adjetivos direcionados àquele conjunto de terroristas de direita e criminosos golpistas que fizeram todo o estrago no Palácio do Planalto, Congresso Federal e na sede do Supremo Tribunal Federal.

Passadas horas de todas aquelas cenas que acompanhamos e toda a aula de política que Lula nos ofereceu ao longo do dia seguinte, mantenho o mesmo sentimento que me acompanhava antes acerca das movimentações nas portas de quartéis: a intenção dos golpistas passa pela manutenção de um clima de conflito e suposta instabilidade. Os seus líderes e financiadores sabem que não há clima, interna e externamente, para a concretização de um golpe em nosso país. 

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A intenção do golpismo, ao pôr em prática uma cópia brasileira da invasão do Capitólio, passa por transmitir a imagem de que existe uma oposição de extrema direita que fará de tudo para atrapalhar a reconstrução do Brasil. Uma extrema direita que, não satisfeita com o cenário de terra arrasada que deixaram por aqui, continuará se fortalecendo para alcançar os seus objetivos novamente, o quanto antes. 

Não nos esqueçamos que esse grupo perdeu a eleição, mas segue se organizando. Não há novidade alguma em falar que eles possuem seus próprios instrumentos de agitação e propaganda. Que após o show de unidade que Lula promoveu já no dia 9, o bolsonarismo em si pode até ficar ainda mais isolado, mas o espectro político que ele hoje representa não sairá das ruas tão facilmente. Estarão animando os seus, pública ou sorrateiramente, mas agindo para tentar desestabilizar o governo a todo momento. 

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Tanto quanto nos cansamos de repetir durante o processo eleitoral em 2022, uma ampla aliança seguirá sendo necessária para governar e reconstruir o Brasil. Especialmente porque é preciso não somente isolar os setores golpistas, mas insistir na tecla de que deve-se investigar, identificar e punir exemplarmente a todos eles. De executores a financiadores. Não há anistia possível com quem não tem a menor disposição de conciliação. E que sigamos estudando esta extrema direita e fazendo o enfrentamento necessário e inteligente, com unidade ampla e dando os passos que a conjuntura permita.

* Aristóteles Cardona é médico de família no sertão pernambucano e professor da Universidade Federal do Vale do São Francisco.

** Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato Pernambuco.

***Leia mais textos como este na coluna de Aristóteles Cardona, do Brasil de Fato PE.

Edição: Vanessa Gonzaga