O mundo político reagiu com veemência aos ataques terroristas praticados por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL) neste domingo (8) às sedes dos Três Poderes, em Brasília (DF). Autoridades nacionais, estaduais, partidárias e lideranças de entidades da sociedade civil fizeram coro ao repudiar a invasão dos prédios públicos e pedir punição para os extremistas.
Em nota à imprensa, o Psol defendeu a identificação e a punição de todos os envolvidos; a instauração de Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) no Congresso Nacional e na Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) para investigar a conduta das forças de segurança; a convocação do governador do DF, Ibaneis Rocha (MDB), pra prestar esclarecimentos; entre outras medidas.
“O bolsonarismo segue agindo impunemente, promovendo neste domingo uma espécie de ‘invasão do Capitólio’ à brasileira. A leniência das forças de segurança do Distrito Federal, comandadas pelo ex-ministro da Justiça de Bolsonaro, Anderson Torres, é evidente. A inação da Polícia Militar (PM) diante da escalada golpista está amplamente documentada”, disse o partido.
A executiva nacional do MDB disse que “nada justifica o vandalismo”. “A turba irracional abandonou os xingamentos nas redes sociais para violentar a nação brasileira. O que assistimos hoje foi um ataque a cada cidadão, cidadã que foi às urnas escolher deputados, senadores, governadores e presidente da República em outubro”, acrescentou o partido.
“E eis que o bolsonarismo mostrou a sua verdadeira face. Esses criminosos devem ser identificados, processados e presos. A liberdade de expressão é instrumento da democracia, e não arma contra ela”, afirmou o deputado federal Marcelo Ramos (PSD-AM), ex-vice-presidente da Câmara dos Deputados.
Em outra postagem, o parlamentar se somou ao coro dos que defendem a prisão do agora ex-secretário de Segurança do DF, Anderson Torres, pedido apresentado neste domingo ao Supremo Tribunal Federal (STF) pela Advocacia-Geral da União (AGU). “Foi ele o responsável pela postura da PMDF, que, longe de reprimir, escoltou os criminosos até a sede dos Poderes”, argumentou Ramos.
“O Congresso Nacional jamais negou voz a quem queira se manifestar pacificamente. Mas nunca dará espaço para a baderna, a destruição e vandalismo”, afirmou o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), via Twitter.
O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), também se manifestou dizendo que foram empregadas “as forças de segurança do Distrito Federal, alem da Polícia Legislativa do Congresso”. “Repudio veementemente esses atos antidemocráticos, que devem sofrer o rigor da lei com urgência”, emendou o parlamentar.
O Fórum Nacional de Governadores também reagiu aos fatos que chocaram o país nas últimas horas. O grupo disse ter “absoluta repulsa” pelas invasões e qualificou os atos dos extremistas como “gravíssimos e inaceitáveis”.
“As governadoras e os governadores brasileiros, colocando-se à disposição para o envio de forças militares estaduais destinadas a apoiar a situação de normalidade nacional, exigem a apuração das origens dessa movimentação absurda e a adoção de medidas enérgicas contra os extremistas e aqueles que permitiram, por negligência ou conveniência, tal situação, bem como a subsequente penalização de seus responsáveis”.
Judiciário
O ministro do STF Alexandre de Moraes, que preside o inquérito que apura a atuação de milícias digitais em atos antidemocráticos, também se pronunciou para condenar a conduta dos bolsonaristas: “Os desprezíveis ataques terroristas à democracia e às instituições republicanas serão responsabilizados, assim como os financiadores, instigadores, anteriores e atuais agentes públicos que continuam na ilícita conduta dos atos antidemocráticos. O Judiciário não faltará ao Brasil”.
Presidenta do STF, a ministra Rosa Weber publicou nota afirmando que a Corte “não se deixará intimidar por atos criminosos e de delinquentes infensos ao Estado democrático de direito”.
“O Brasil viveu neste domingo uma página triste e lamentável de sua história, fruto do inconformismo de quem se recusa a aceitar a democracia. Desde que o ato foi anunciado, mantive contato com as autoridades de segurança pública, do Ministério da Justiça e do governo do DF. Os agentes do STF garantiram a segurança dos ministros da Corte, que acompanharam os episódios com imensa preocupação. O STF atuará para que os terroristas que participaram desses atos sejam devidamente julgados e exemplarmente punidos. O prédio histórico será reconstruído”, disse Weber.
Sociedade civil
Também surgiram, nas últimas horas, diferentes manifestações de entidades civis a respeito do ocorrido. O Fórum Nacional Permanente de Carreiras Típicas de Estado (Fonacate), que aglutina 36 entidades associativas e sindicais e representa mais de 200 mil servidores públicos, disse repudiar a atitude dos extremistas.
“Já passou da hora de as autoridades públicas brasileiras tomarem medidas efetivas para conterem atos antidemocráticos, identificarem, processarem e punirem responsáveis – financiadores e executores, inclusive autoridades coniventes – nos rigores da lei. Manifestamos compromisso irrestrito com a vontade popular expressa nas urnas, assim como solidariedade aos chefes dos Três Poderes covardemente atacados pelos criminosos, ao tempo em que cobramos ações imediatas para defesa do Estado Democrático de Direito”, disse a entidade.
A Federação Única dos Petroleiros (FUP), também comentou publicamente o assunto. “Gravíssimos os atos terroristas em Brasília dos fascistas bolsonaristas, que atacaram a democracia brasileira. Enquanto isso, o então secretário de segurança do DF, Anderson Torres, agora exonerado, estava nos Estados Unidos reunido com Jair Bolsonaro. Torres, o conivente, tem que ser preso, assim como todos os responsáveis pelos crimes", disse o coordenador-geral da organização, Deyvid Bacelar, em nota.
No documento, o dirigente afirmou ainda que a entidade entrou em contato com o serviço de inteligência e segurança corporativa da Petrobras, com órgãos federais da área de segurança pública e ainda com o presidente da empresa indicado por Lula, Jean Paul Prates, para emitir um alerta sobre possíveis atos golpistas que também estariam sendo articulados para atacar refinarias da estatal em todo o país e barrar o fornecimento de combustíveis à população.
Edição: Glauco Faria