Três dos quatro principais partidos de oposição que compunham a base política do autoproclamado presidente da Venezuela Juan Guaidó decidiram nesta quinta-feira (22) retirar o apoio ao "governo interino" e eliminar a figura da "presidência encarregada" que era ocupada pelo ex-deputado.
As legendas Ação Democrática, Primeiro Justiça e Um Novo Tempo já haviam anunciado na quarta-feira (21) que levariam para discussão a proposta de encerrar o "interinato" de Guaidó pois, segundo elas, "o processo político que se iniciou em 23 de janeiro de 2019 se debilitou e não é visto como uma opção real de mudança política".
A decisão foi formalizada em votação durante uma videoconferência do que esse setor da oposição chama de "Assembleia Nacional legítima", que reúne alguns ex-deputados eleitos nas eleições legislativas de 2015. Na prática, todos os políticos que participam desses encontros não possuem mandatos regulares já que em 2020 o país elegeu um novo Congresso.
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Dos 104 ex-parlamentares reunidos, 72 votaram a favor do encerramento da "presidência interina" de Guaidó e de todos os entes e órgãos fictícios ligados a ela. Entretanto, a proposta prevê a manutenção de duas entidades paralelas ligadas ao "governo interino": as "direções interinas" da PDVSA e do Banco Central.
Tais entidades são dirigidas por aliados diretos de Guaidó e são responsáveis por controlar os ativos e os fundos financeiros que pertencem ao Estado venezuelano bloqueados pelo EUA nos últimos anos.
No caso da "direção interina" da PDVSA, o principal ativo que ela controla é a Citgo, subsidiária da estatal petroleira venezuelana que possui uma rede de refinarias e postos nos EUA. Já o "Banco Central" da oposição é o responsável por gerir fundos e reservas como, por exemplo, as 31 toneladas de ouro que estão retidas no Banco da Inglaterra.
Segundo os partidos que propuseram o fim do "interinato", uma comissão formada por cinco ex-deputados deverá ser criada para substituir Guaidó no controle dos ativos no exterior.
Além disso, os "embaixadores" indicados pelo "presidente interino" também serão retirados de seus postos. No Brasil, a advogada Maria Teresa Belandria, que era reconhecida pelo governo de Jair Bolsonaro (PL) como embaixadora da Venezuela, já anunciou que deixará o país antes de janeiro.
Os ex-parlamentares já convocaram uma segunda reunião que deve ocorrer no dia 29 de dezembro para votar pela segunda vez a proposta e, se aprovada, ela passará a ter validade entre os opositores.
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A decisão de eliminar a "presidência interina" de Guaidó marca uma mudança na estratégia desse setor da oposição de direita que não participa de eleições desde 2015. Em 2019, com a "autoproclamação" do então deputado, os principais partidos da direita venezuelana passaram a apostar cada vez mais na criação de "instituições paralelas" para desestabilizar e tentar derrubar o governo de Nicolás Maduro.
Com o apoio dos EUA, de vários países europeus e dos vizinhos sul-americanos que, naquele momento, eram governados por presidentes de direita, Guaidó e seus aliados protagonizaram diversas tentativas de golpes de Estado e até de invasão ao território venezuelano.
Agora, com o retorno das delegações do governo e da oposição à mesa de diálogo no México e a possibilidade de acordos que podem antecipar as eleições presidenciais marcadas para 2024, a direita volta a considerar a via eleitoral como tática para se opor a Maduro. Os principais partidos opositores já anunciaram as intenções de realizar eleições primárias em junho de 2023 para definir um candidato único à presidência.
Edição: Thales Schmidt