O candidato à Presidência pelo PT (Partido dos Trabalhadores), Luiz Inácio Lula da Silva, classificou nesta segunda-feira (22) o ex-deputado de direita venezuelano Juan Guaidó, "autoproclamado presidente" da Venezuela, como "um impostor" e disse que se vencer as eleições em outubro "o Brasil vai tratar a Venezuela com respeito". Na entrevista coletiva concedida à imprensa internacional em São Paulo, Lula ainda defendeu a alternância de poder no país vizinho.
"Eu gostaria de desejar para a Venezuela o que eu quero para o Brasil. Quero que as eleições sejam sempre mais livres, que se acate os resultados. Eu não concordei quando a União Europeia inteira aceitou o [Juan] Guaidó como presidente da Venezuela. Ele era um impostor, está provado que ele era um impostor", disse Lula.
Quando o atual presidente venezuelano Nicolás Maduro venceu as eleições presidenciais de 2018 e se reelegeu para um segundo mandato, a direita do país e diversos governos na região disseram que o pleito havia sido supostamente "fraudado" e não reconheceram a vitória eleitoral do chavista. Um ano depois, em 2019, o então deputado de direita Juan Guaidó se "autoproclamou" presidente da Venezuela em uma tentativa de golpe de Estado, que culminou na criação de um "governo paralelo" fictício integrado por partidos de oposição e reconhecido pelos EUA e pela União Europeia.
Favorito nas pesquisas, o ex-presidente ainda disse esperar que a Europa e os EUA tratem a Venezuela "com respeito", afirmando que a "convivência democrática" só pode ser garantida sem a "criminalização das pessoas". Atualmente, o Estado venezuelano é alvo de diversas sanções econômicas impostas por Washington e por países europeus.
"Agora, o Brasil vai tratar a Venezuela com respeito e eu espero que a Europa a trate com respeito, eu espero que os Estados Unidos restabeleça as relações com a Venezuela, porque só tem um jeito de você restabelecer a convivência democrática e não é tentando criminalizar as pessoas", afirmou.
O petista, que busca conquistar seu 3º mandato, também citou os acenos que o governo do presidente dos EUA, Joe Biden, tem feito à Caracas. Desde o início do ano, a Casa Branca já enviou duas vezes uma delegação ao país sul-americano para se reunir com membros do governo de Nicolás Maduro.
"Eu até fiquei feliz de ver que o [Joe] Biden está tentando uma nova aproximação com a Venezuela. Espero que não seja só por causa do petróleo, espero que seja por causa da civilização", disse o candidato.
Lula também lembrou de sua "extraordinária relação" com o país vizinho durante seus primeiros mandatos, quando a Venezuela era governada pelo ex-presidente Hugo Chávez. O candidato destacou a importância das relações comerciais entre os países, que atingiram altos níveis durante seu governo.
Entre os anos de 2003 e 2006, por exemplo, as exportações brasileiras para a Venezuela passaram de US$ 600 milhões (cerca de R$ 3 bi) para US$ 3,5 bilhões (mais de R$ 18 bi), segundo o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada). "O Brasil tinha uma relação comercial na qual a gente tinha um superávit muito forte com a Venezuela; é um país que tem uma fronteira muito grande com o Brasil e nós precisamos tratar a Venezuela com respeito", disse.
O ex-presidente também fez referência às eleições na Venezuela e disse desejar que o país "seja o mais democrático possível". Lula ainda falou sobre "alternância de poder" e afirmou que não a deseja "apenas para mim, eu defendo para a Venezuela também, eu defendo para todos os países".
De acordo com o calendário eleitoral do país, a Venezuela vai realizar eleições presidenciais em 2024.
Rússia, China e América Latina
Lula ainda comentou os reflexos da guerra entre Rússia e Ucrânia e disse que vai se esforçar para estabelecer novamente a paz, caso seja eleito.
"Eu espero que quando eu ganhar as eleições, a guerra entre Rússia e Ucrânia já tenha terminado, eu ficarei muito mais tranquilo. Se por acaso ela não tiver terminado, o Brasil fará todo o esforço que estiver ao seu alcance nas conversas com outros chefes de Estado para que a gente estabeleça novamente a paz", afirmou.
Citando também as recentes tensões entre China e Taiwan, o ex-presidente mencionou a necessidade de uma reformulação na Organização das Nações Unidas "para evitar que esses conflitos se prolonguem".
"Eu sempre digo o seguinte: a ONU teve força para criar o Estado de Israel, mas ela não tem força de criar o Estado palestino. A gente vive em um conflito porque ela se enfraqueceu, porque a geopolítica mudou, portanto é preciso que exista mais gente no Conselho de Segurança da ONU [...], é preciso colocar a geopolítica do século 21 para dirigir a ONU", disse.
O candidato do PT ainda afirmou que pretende manter "uma relação muito forte" com a China, apesar de defender os interesses soberanos do Brasil nas aéreas industriais e agrícolas.
Sobre os processos de integração regional, Lula afirmou que a "América do Sul vive um momento muito especial" após as vitórias de candidatos progressistas no Chile, Argentina, Peru, Bolívia e Colômbia nos últimos anos.
"É uma demonstração de que o povo latino-americano não quer mais fascistas dirigindo nosso continente, de que o povo quer a democracia. Se eu voltar à Presidência do Brasil, eu volto com mais vontade de trabalhar a integração da América do Sul do que eu tive na primeira vez, porque eu já conheço onde nós falhamos", afirmou.
Edição: Rodrigo Durão Coelho