Diplomacia

Em Paris, Macron recebe governo e oposição da Venezuela para discutir retomada de diálogo

Presente na reunião, Gustavo Petro propôs "desbloqueio" da Venezuela; mandatário argentino também participou do encontro

Caracas (Venezuela) |
Encontro ocorreu durante o Fórum de Paris sobre a Paz - Reprodução Twitter @NadalDiplo

O presidente da França, Emmanuel Macron, recebeu em Paris nesta sexta-feira (11) as delegações do governo e da oposição da Venezuela para discutir a retomada da mesa de negociações que foi instalada no México, mas suspensa em outubro do ano passado.

Os presidentes da Argentina, Alberto Fernández, e da Colômbia, Gustavo Petro, também estiveram presentes na reunião, além da ministra das Relações Exteriores da Noruega, Anniken Huitfeldt.

O encontro ocorreu durante o Fórum de Paris sobre a Paz, que começou nesta sexta. Convidado pelo governo francês, o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deve enviar uma mensagem gravada para o evento.

::O que está acontecendo na Venezuela::

Após a reunião, Petro afirmou que propôs às partes o "desbloqueio" da Venezuela e uma "anistia geral" aos políticos que estejam presos no país. Além disso, o mandatário colombiano afirmou que deve existir um "pacto de convivência para as eleições e depois delas". Pelo calendário eleitoral, a Venezuela realizará eleições presidenciais em 2024.

Por parte do governo venezuelano, Jorge Rodríguez, que é presidente da Assembleia Nacional e chefe da delegação governista na mesa de diálogo, afirmou que a oportunidade de conversar em Paris representa um avanço para ambas as partes.

Entretanto, segundo o chavista, toda e qualquer medida concreta que possa ser obtida durante as negociações passa pela suspensão imediata das sanções impostas pelos Estados Unidos.

"Estamos convencidos de que o caminho da Venezuela é o diálogo, a suspensão de todas as sanções ilegais e o respeito à Constituição", disse.

Gerardo Blyde, que lidera a delegação opositora, também cumprimentou a realização do encontro, mas deixou claro que "não há uma negociação em Paris". "Hoje foi simplesmente um encontro de aproximação. Atendemos ao convite do presidente Macron, estamos nesse Fórum pela paz porque apostamos na paz", disse.

O presidente argentino, que também participou da reunião, já havia dito na noite desta quinta-feira (10), quando foi recebido por Macron em Paris, que "o problema da Venezuela é parte de uma ferida aberta na América Latina que devemos resolver de uma vez por todas".

Já Macron disse também nesta quinta que pretende trabalhar para que as negociações se retomem "o quanto antes no México" e que espera "um acordo humanitário com garantias políticas". O embaixador francês na Venezuela, Romain Nadal, reiterou as palavras do presidente e disse que a França vai "trabalhar incansavelmente para a negociação e para a paz".

A presença venezuelana no Fórum e a reunião entre os presidentes para discutir a mesa de diálogo já havia sido adiantada na última segunda-feira durante um encontro que Macron teve com o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, na COP27.

Na ocasião, Maduro convidou o francês a visitá-lo em Caracas e afirmou que "a França tem que jogar um papel positivo" na América do Sul. Já Macron respondeu prometendo que ia ligar ao venezuelano em breve e que "adoraria [...] conversar um pouco mais e começar um trabalho bilateral que seja útil para o país e para a região".

Negociação entre Venezuela e EUA

Paralisada desde outubro de 2021, a mesa de diálogo entre governo e oposição da Venezuela tinha como objetivo resolver temas fundamentais para o país, como a devolução de ativos no exterior que foram apropriados por forças opositoras e o fim das sanções impostas pelos EUA.

Após a extradição do empresário aliado da Venezuela Alex Saab aos EUA, Caracas decidiu suspender as negociações. Durante o ano de 2022, ambas as partes sinalizaram que estavam dispostas a voltar ao México, mas poucas ações concretas foram tomadas.

A reunião desta sexta-feira em Paris é a primeira vez em meses que as delegações aparecem reunidas publicamente.

Nos últimos meses, a retomada dos diálogos ganhou nova importância por conta da emergência energética que ameaça o Ocidente. Em busca de alternativas ao fornecimento de combustível russo, interrompido por conta da guerra na Ucrânia, os EUA e países europeus passaram a considerar a Venezuela como possível fonte.

Nesse sentido, as discussões para suspender ou pelo menos aliviar o bloqueio econômico se tornaram fundamentais não só para Caracas, mas também para a comunidade que impôs tais sanções.

Em julho, durante a cúpula do G7 que ocorreu na Alemanha, os interesses da França em se reaproximar da Venezuela já haviam sido manifestados quando um representante do governo francês disse a repórteres que Paris estaria trabalhando pela diversificação de fontes de combustíveis e pela reincorporação do petróleo iraniano e venezuelano ao mercado ocidental, ambos sancionados pelos EUA.

Edição: Thales Schmidt