Neste domingo (6), no Parque da Juventude em São Paulo - construído no mesmo chão em que, em 1992, aconteceu o massacre do Carandiru -, artistas, ativistas, familiares de vítimas da violência do Estado e sobreviventes do sistema prisional realizaram um ato-intervenção em memória aos 30 anos da chacina.
Integrantes do Movimento Independente Mães de Maio despejaram 111 baldes de líquido vermelho em uma bandeira verde e amarela de 25 metros de comprimento. Cada balde tinha 7 litros de tinta: a quantidade média de sangue que tem um corpo adulto. Enquanto o vermelho escorria pelo verde do tecido, Débora Silva, fundadora do movimento de mães das vítimas dos crimes de maio de 2006, vocalizava, no microfone, o nome de cada uma das 111 pessoas oficialmente executadas no Carandiru.
Em seguida, 111 sobreviventes do sistema prisional vestidos com o uniforme do cárcere, calça cáqui e camiseta branca, lavaram a bandeira com o próprio corpo. Depois que se retiraram, o espaço foi lavado e, no lugar, espalhadas folhas de louro.
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Organizada pela Cia Dxs Terroristxs, a ação, chamada de Fracto 111 e contemplada por um edital da prefeitura de São Paulo de fomento ao teatro, juntou duas performances artísticas. Uma deste próprio coletivo, chamada "Pátria amada ou nossa bandeira sempre foi vermelha de sangue"; outra, intitulada "Mil litros de preto", criada pela artista Lucimélia Romão em parceria com as Mães de Maio.
"Até quando?"
Segundo Murilo Gaulês, integrante da Cia Dxs Terroristxs, a performance tem o objetivo de levantar duas perguntas: "Até quando estaremos banhados em sangue preto e pobre no Brasil? Como remover as manchas de um dos países que mais mata e encarcera no planeta?"
De acordo com levantamento do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) atualizado até outubro deste ano de 2022, o Brasil tem 909.061 pessoas presas. Deste montante, que dá ao país o terceiro lugar entre os que mais encarceram no planeta, 44,5% são presos provisórios, ou seja, sequer foram julgados.
Ao convocar para a ação, a Cia Dxs Terroristxs aponta que o massacre do Carandiru, "longe de ser um episódio isolado", foi um dos "grandes disparadores de um efeito dominó que culminaria em outras tantas chacinas".
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"Vendo a impossibilidade de deixar essa data passar batida, e desviando dos apagamentos provindos do fervor eleitoral", afirma o coletivo, "organizamos este ato para honrar a memória dos que se foram e conclamar a dignidade dos que aqui estão".
A intervenção teve colaboração da Amparar (Associação de Amigas/os e Familiares de Presas/os), Cooperativa Libertas, Frente Estadual pelo Desencarceramento de SP, ONG Pacto Social e Carcerário, Rede de Proteção e Resistência ao Genocídio, Por Nós, Direção de Cena Brasil, coletivo Kriadaki, grupo teatral Fuga Coletiva, Rede Amalgamar, Casa da F.U.R.I.A e Casa Flores.
Edição: Thalita Pires