transição

Dois dias após fracasso, Bolsonaro faz discurso dúbio sobre bloqueios e não parabeniza Lula

Candidato derrotado à reeleição agradece votos que teve nas urnas e diz que respeitará Constituição

São Paulo (SP) |
Bolsonaro, cercado de asseclas, discursou por apenas dois minutos - Foto: Reprodução/Yotueub

Quarenta e cinco horas depois da declaração da vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições presidenciais, Jair Bolsonaro (PL) saiu do isolamento do Palácio do Planalto e falou à nação. Em um discurso de dois minutos, o candidato derrotado emitiu sinais contraditórios sobre os bloqueios das estradas promovidos por seus apoiadores e agradeceu os votos recebidos, mas não citou Lula.

"Os atuais movimentos populares são frutos de indignação e sentimento de injustiça, de como se deu o processo eleitoral", disse, sem explicar a que injustiças se referia no discurso.

Leia também: Pedir artigo 142 vai contra ordem institucional, afirma procuradora de SP

Em seguida, buscou sinalizar um apelo para que os manifestantes desobstruam as vias. "As manifestações pacíficas sempre serão bem-vindas, mas nossos métodos não podem ser da esquerda, que sempre prejudicaram a população, como invasão de propriedade e cerceamento do direito de ir e vir", afirmou Bolsonaro.

Com atraso histórico, o atual ocupante do Palácio do Planalto se lembrou de saudar os eleitores que lhe entregaram um voto nas urnas. "Quero começar agradecendo os 58 milhões de brasileiros que votaram em mim, no último dia 30 de outubro."

Em outro trecho, Bolsonaro se comprometeu, mesmo que em mensagem codificada, com a transição do poder para seu algoz, Lula. "Mesmo enfrentando todo o sistema, superamos uma pandemia e uma guerra. Sempre fui rotulado como antidemocrático, mas ao contrário de meus acusadores, sempre joguei dentro das quatro linhas da Constituição. Nunca falei de censurar mídias ou redes sociais. Enquanto presidente da República e cidadão, continuarei cumprindo todos os mandamentos de nossa Constituição."

Por fim, voltou a repetir o lema integralista, que marcou sua gestão e o colocou como referência para fascistas pelo mundo. "A direita surgiu de verdade em nosso país. Nossa robusta representação no Congresso mostra a força de nossos valores, Deus, pátria, família e liberdade. Formamos diversas lideranças pelo Brasil, nossos sonhos seguem mais vivos do que nunca, somos pela ordem e o pelo progresso."

Após o pronunciamento, Bolsonaro fugiu, com pressa e sem discrição.

O ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP-PI), ficou com a incumbência de dar informações sobre o processo de transição de governo. "O presidente Jair Bolsonaro me autorizou. Quando for provocado, com base na lei, nós iniciaremos o processo de transição", afirmou.

"A presidente do PT, segundo ela em nome do presidente Lula, disse que na quinta-feira (3), será sinalizado o nome do vice-presidente Geraldo Alckmin", finalizou.

Saiba mais: Geraldo Alckmin será o coordenador de transição do governo de Lula

Edição: Thalita Pires