ANÁLISE

Chomsky avalia que vitória de Lula seria "significativa" para paz na Ucrânia e retorno do BRICS

Linguista estadunidense analisou impactos do resultado das eleições no Brasil ao lado de Vijay Prashad

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
O intelectual estadunidense Noam Chomsky está em Minas Gerais acompanhando o processo eleitoral brasileiro - Heuler Andrey /AFP

Na última edição do programa de entrevistas do portal Democracy Now, na sexta-feira (30), o intelectual estadunidense, Noam Chomsky e o diretor do Instituto Tricontinental, Vijay Prashad, analisaram que as eleições no Brasil serão "significativas" para todo o planeta. Prashad visitou o Brasil recentemente, enquanto Chomsky permanece em Minas Gerais acompanhando o processo de perto.

Para o linguista estadunidense, um novo mandato de Lula pode ser decisivo para a consolidação de uma nova ordem geopolítica mundial, baseada na multipolaridade, com maior peso do BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul).

"O Brasil se tornou talvez o país mais respeitado internacionalmente sob Lula e seu chanceler, Celso Amorim. E se ele voltar ao cargo, isso pode dar um impulso ao desenvolvimento, o desenvolvimento do BRICS como um elemento bastante significativo nos assuntos internacionais", disse.

Prashad concorda: "Lula deixou claro que mais uma vez quer que o Brasil seja um ator importante no processo de integração sul-americana e no ressurgimento dos BRICS".

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Em relação à América Latina, Vijay Prashad defendeu que a eleição de Lula seria o último passo para uma nova fase de integração regional, com governos progressistas, como Nicolas Maduro (Venezuela), Luis Arce (Bolívia) e Gustavo Petro (Colômbia).

"Quando pessoas desse tipo chegam ao poder, que querem uma política externa independente para seu país, eles entendem que no próximo ano, 2023, é o 200º aniversário da Doutrina Monroe. Eles querem ir além da Doutrina Monroe", destacou.

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O retorno da diplomacia de paz, também poderia pesar na balança para a promoção do fim da guerra na Ucrânia. "A Ucrânia é uma parte central dessa questão. Cerca de 90% dos países do mundo não estão de acordo com a posição EUA-Reino Unido sobre a Ucrânia, que é basicamente continuar a guerra para enfraquecer a Rússia e nenhuma negociação. Todas essas coisas estão acontecendo em segundo plano, e o que está acontecendo no Brasil terá um impacto significativo na direção em que eles vão", analisa.

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Noam Chomsky também compara Bolsonaro com Trump e comenta o interesse do Partido Republicano numa reeleição do atual presidente, que poderia ser entendida como uma vitória estratégica prévia às eleições de meio termo, que serão celebradas em novembro nos EUA. Há possibilidade de vitória do setor trumpista sobre os Democratas.

"Bolsonaro disse aberta e claramente que – basicamente seguindo a linha de Trump, provavelmente com os conselheiros de Trump ao seu lado – ou ele vai ganhar a eleição , ou a eleição foi fraudulenta, que ele não vai aceitar", disse Chomsky. 

E alerta: "a aliança com o Partido Republicano, o Partido Republicano de propriedade de Trump, é bastante clara. Não está escondido. Portanto, há semelhanças nos Estados Unidos e no Brasil que certamente valem – merecem atenção".

Edição: Thalita Pires