Um homem foi morto e três ficaram feridos em um ataque a tiros na manhã de sábado (24), no município de Acará, região nordeste do Pará. Moradores atribuem o crime a conflitos com uma empresa exploradora de dendê na região.
Clebson Barra Portilho, de 41 anos, dirigia uma caminhonete com três indígenas do povo Turiwara quando foi atingido por tiros disparados por homens em um carro, por volta das 10h30. Clebson faleceu e os três indígenas ficaram feridos.
"Foi próximo ao KM 14 do Acará, quando um carro vermelho com quatro pessoas fardadas da empresa, de preto, meteram bala no carro (em que as vítimas estavam)", afirmou ao site G1 um morador que teve a identidade preservada. Também ao G1, uma liderança na comunidade relatou que "este não é o primeiro ataque", atribuído a seguranças privados.
Os três feridos foram encaminhados ao hospital metropolitano de Belém (PA). Um deles foi baleado na cabeça e no ombro direito e está internado em estado grave. As quatro vítimas estavam em uma caminhonete branca, que teve os vidros destruídos.
Incêndio poucas horas depois
Os indígenas feridos são da comunidade Ramal Braço Grande, localizada entre os municípios de Tomé-Açu (PA) e Acará. A área é próxima à Terra Indígena (TI) Turé-Mariquita e é reivindicada pelos povos Turiwara e Tembé como terra de ocupação tradicional indígena. De acordo com o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), a região é marcada por conflitos entre povos indígenas, quilombolas e ribeirinhos contra empresas produtoras de óleo de palma.
Imagens do momento do ataque circulam pelas redes sociais e mostram um carro vermelho e uma moto passando ao lado da caminhonete atingida. É possível ouvir alguns disparos no vídeo.
O Ministério Público Federal (MPF) do Pará abriu inquérito para investigar o ataque e notificou a Polícia Federal. O Cimi, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), a Sociedade Paraense de Direitos Humanos e a Coordenação das Associações das Comunidades Remanescentes de Quilombo do Pará (Malungu) acompanham o caso.
Menos de 24 horas depois do ataque, um incêndio atingiu o Centro Cultural da comunidade Ramal do Braço Grande. Os indígenas Turiwara denunciam que o fogo foi fruto de um ato criminoso para intimidar o povo.
A comunidade gravou um vídeo do local queimado. “Nós pedimos socorro”, afirma o indígena que gravou o vídeo do local queimado. “Estamos sendo bombardeados, entraram dentro da nossa comunidade e meteram fogo na nossa casa cultural”.
Veja o vídeo:
Histórico de tensões
Não é o primeiro ataque à comunidade, devido aos conflitos envolvendo empresas que produzem óleo de palma. Em julho, um dos indígenas baleados no ataque deste sábado já havia registrado um boletim de ocorrência em que relata um ataque armado de "seguranças privados".
Segundo o relato, na noite do dia 1º de julho, quatro homens mascarados, em um veículo com o logotipo da empresa Stive Segurança, dispararam cerca de trinta vezes contra um grupo de doze indígenas da comunidade Turiwara, em Tomé-Açu. Um indígena foi atingido no peito e hospitalizado. Segundo relatos da comunidade, ele sobreviveu e um inquérito policial investiga o caso.
Nos últimos dois anos, especialmente, comunidades indígenas, quilombolas e ribeirinhas dos municípios vizinhos de Tomé-Açu e Acará têm denunciado ameaças e danos ambientais praticados por empresas produtoras de óleo de palma.
De acordo com as denúncias, as empresas instalaram usinas e grandes plantações de palmeiras de dendê na região – inclusive em locais próximos às casas dos indígenas. Além de cercarem a TI Turé/Mariquita, as fazendas de monocultivo também estão sobrepostas à área cuja demarcação é reivindicada pelos Tembé e Turiwara.
Esta área faz parte do território de ocupação tradicional destes povos na região. Apesar da reivindicação e da presença histórica pelos indígenas, apenas três pequenas terras encontram-se demarcadas no município de Tomé-Açu: a TI Tembé, com 1.075 hectares, e as TIs Turé/Mariquita I, de apenas 146 hectares, e Turé/Mariquita II, contígua à primeira e registrada como reserva indígena pela Fundação Nacional do Índio (Funai) com 593 hectares.
*Com informações do Cimi e do G1
Edição: Nicolau Soares