O novo embaixador da Colômbia para a Venezuela, Armando Benedetti, entregou nesta segunda-feira (29) suas credenciais diplomáticas ao presidente Nicolás Maduro, ato que marcou a posse do diplomata e a retomada das relações entre os países.
O Brasil de Fato acompanhou a cerimônia direto do Palácio Miraflores, sede do governo venezuelano.
Segundo Benedetti, ele e Maduro conversaram "sobre a urgência de restabelecer os laços de amizade que nunca deveriam ter sido rompidos". O presidente venezuelano, por sua vez, classificou o encontro como "ameno e fraterno" e disse que marcou "o início de uma etapa de relações diplomáticas de irmandade".
Benedetti chegou em Caracas neste domingo (29). No mesmo dia, o novo embaixador venezuelano para a Colômbia, Felix Plascencia, aterrissou em Bogotá e deve assumir o cargo em breve.
Ao chegar à Venezuela, o representante diplomático colombiano afirmou que vai trabalhar para o pleno restabelecimento de relações em todos os níveis e disse que os laços nunca deveriam ter sido rompidos.
"Uma linha imaginária não pode nos separar, muito menos uma política de Estado como fez o ex-presidente [Iván] Duque", disse.
O embaixador ainda falou sobre o estabelecimento de "uma zona econômica com isenções de impostos e uma legislação que permita que o governo possa investir em obras que influenciem o desenvolvimento da região".
As declarações fazem eco aos anúncios feitos por Maduro no dia 23 de agosto, quando disse que iria propor ao presidente colombiano Gustavo Petro a criação "de uma grande zona econômica comercial" entre os dois países.
Segundo projeções da Câmara de Integração Econômica Venezuelana-Colombiana (Cavecol), após o restabelecimento de relações e a reativação das fronteiras, o intercâmbio comercial entre as duas nações pode chegar a US$ 1,2 bilhão (R$ 6,2 bilhões) até o final do ano.
Encontro entre Petro e Maduro
Em entrevista à revista colombiana Semana, Benedetti afirmou que um encontro entre Petro e Maduro poderia ocorrer em outubro e que ele faria a proposta aos presidentes em breve.
"[Um encontro] entre os dois na fronteira da Colômbia e Venezuela, no começo de outubro. Vou propor que esse encontro possa acontecer no começo de outubro em algum lugar limítrofe entre ambas as nações", disse.
Logo após assumir o cargo, Petro já havia adiantado que existiam muitos temas pendentes entre os países e que a plena normalização de relações poderia demorar cerca de dois meses. A nomeação e posse de embaixadores é um dos passos mais concretos tomados pelos dois governos até o momento para a retomada dos laços rompidos em 2019.
Isso porque a Colômbia não mantinha um embaixador na Venezuela desde 2017, quando o então presidente Juan Manuel Santos convocou o diplomata para consultas. Já a Venezuela retirou seu representante diplomático da Colômbia em 2018, logo após a vitória eleitoral do ex-presidente direitista Iván Duque.
Durante o mandato de Duque, as relações entre Colômbia e Venezuela se deterioraram rapidamente, culminando no rompimento total em 2019. Na ocasião, o ex-presidente colombiano deu apoio material e logístico para uma tentativa de invasão ao território venezuelano organizado pelo ex-deputado Juan Guaidó.
No tempo em que ocupou a Presidência, Duque não só deixou de reconhecer o mandato de Maduro, como também passou a fornecer apoio político ao "interinato" comandado pelo opositor autoproclamado "presidente" venezuelano.
Uma das consequências dessa estratégia foi a entrega da Monómeros ao setor da oposição liderado por Guaidó. A empresa, que fica em território colombiano, é subsidiária da estatal petroquímica venezuelana Pequiven e pertence à Venezuela, mas o governo colombiano permitiu que uma junta diretora nomeada pelo "interinato" tomasse o controle da planta em Barranquilla.
Com a posse de Benedetti e a retomada de relações, a expectativa é de que o governo Petro devolva a empresa ao Estado venezuelano. Além do próprio presidente colombiano já ter feito a promessa, o novo embaixador também já garantiu que a Monómeros voltará "para seus legítimos donos".
Venezuela na Comunidade Andina?
Se por um lado o presidente venezuelano fala em propor a Petro criação de uma zona econômica especial com a Colômbia, o mandatário colombiano afirmou nesta segunda-feira que a Venezuela deveria voltar à Comunidade Andina (CAN), grupo que reúne Colômbia, Peru, Bolívia e Equador.
"Este é o momento oportuno para considerar a visão de integração efetiva da América Latina a partir do relacionamento com outros blocos, mas particularmente, através da vinculação de aliados fundamentais, como Chile e Venezuela, nações irmãs", disse Petro, durante uma conferência do grupo realizada em Lima nesta segunda-feira.
A Venezuela deixou a CAN em 2006, por decisão do então presidente Hugo Chávez. À época, o mandatário justificou a retirada do país do grupo por conta de acordos de livre comércio que a Colômbia e o Peru haviam assinado diretamente com os Estados Unidos.
Edição: Thalita Pires