A Rússia agradeceu ao Brasil por sua posição de neutralidade em relação à crise ucraniana ao se abster de se juntar às sanções do Ocidente contra Moscou. Quem afirma é o senador da Comissão de Cooperação Internacional do Conselho da Federação, Andrei Klimov, em entrevista coletiva à mídia brasileira, realizada por videoconferência na última quinta-feira (26).
"O Brasil recentemente, em uma votação da Assembleia Geral da ONU se absteve e não apoiou a resolução claramente anti-russa, e por isso nós somos gratos ao Brasil e a muitos outros países da América Latina, África e Ásia, países que não adotaram esse caminho e não acompanharam esse grupo anti-russo", disse o senador russo.
Klimov observou que os países que não aderiram às sanções contra Moscou têm tido benefícios econômicos, enquanto as restrições do Ocidente causaram prejuízos para os países que as adotaram. Ele lembrou que, atualmente, a China compra gás da Rússia a um preço 20 vezes menor que a Alemanha. "Enquanto um destrói sua economia, o outro a eleva", disse.
"Não é que o Brasil ajudou a Rússia, a posição do Brasil ajudou o próprio Brasil a defender a sua economia. Vocês estão colocando os seus próprios interesses à frente (...) Os países que são mais sábios, como a China, Índia, Irã, até a Sérvia, podemos dizer, uma série de países, só recebem vantagens por essa posição", acrescentou.
Eleições brasileiras
Ao comentar a relação da Rússia com os possíveis resultados das eleições brasileiras, o senador russo destacou que Moscou respeitará a decisão do povo brasileiro e que a Federação Russa é "categoricamente contra a interferência nos assuntos de países soberanos".
"Nós estamos prontos para trabalhar com monarquias árabes, com grandes democracias como a Índia, como a China, que tem um sistema político comunista, e isso é normal. Por isso, quando falamos sobre as eleições no Brasil, eu desejo ao Brasil que suas eleições sejam livres", completou.
Já o diretor do Instituto de América Latina da Academia Russa de Ciências, Dmitry Razumovski, que participou da coletiva junto com o senador russo, comentou que os dois principais candidatos nas eleições, Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT), promoveram relações das mais construtivas com a Rússia em seus respectivos governos à frente do Brasil.
Segundo ele, durante a presidência de Lula, as relações entre Rússia e Brasil alcançaram um caráter estratégico e os dois países tornaram-se importantes parceiros estratégicos no âmbito do Brics.
Em entrevista à revista Time, em maio deste ano, o ex-presidente Lula também atribuiu a responsabilidade do conflito na Ucrânia aos EUA e à União Europeia. Ele afirmou que se EUA e a Europa garantissem que a Ucrânia não entraria na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), "estaria resolvido o problema".
"E agora, às vezes fico vendo o presidente da Ucrânia na televisão como se estivesse festejando, sendo aplaudido em pé por todos os parlamentos, sabe? Esse cara é tão responsável quanto o Putin. Ele é tão responsável quanto o Putin. Porque numa guerra não tem apenas um culpado [...] Ele [Zelensky] quis a guerra. Se ele [não] quisesse a guerra, ele teria negociado um pouco mais", disse Lula na ocasião.
Já Bolsonaro afirmou na última terça-feira (23) que não cabe a ele entrar na discussão sobre o lado que estaria certo no conflito entre Rússia e Ucrânia.
"Fui massacrado pela mídia, e até mesmo por colegas, quando conversei com o Vladimir Putin. Tudo que conversei com ele foi resolvido de perto e sem máscara. Putin demonstrou confiança na gente. Inclusive me convidou para conhecer a sala dele, em um gesto de carinho", disse Bolsonaro.
Para o pesquisador Dmitry Razumovski, ambos os candidatos adotam políticas bastante independentes e "quaisquer tentativas de países estrangeiros, sobretudos os EUA, de influenciar de alguma forma na política [brasileira] nunca deu em nada".
De acordo com ele, ambos os candidatos buscaram avaliar de maneira "muito objetiva e adequada" a operação especial militar da Rússia na Ucrânia.
Edição: Thales Schmidt