O ator e diretor Luciano Chirolli está sendo acusado de discriminar e ofender, no último domingo (21), dois espectadores com síndrome de Down no Teatro da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), conhecido como Tuca.
As vítimas são Beatriz Campinho, atriz, escritora e designer de interiores, e Ariel Goldenberg, ator e produtor. Eles estavam na plateia da peça Longa Jornada Noite Adentro, dirigida por Sergio Módena.
Ao final da apresentação, durante os agradecimentos, Chirolli desceu do palco e caminhou até o casal. "Ele foi grosseiro, preconceituoso. Disse que não era para a gente estar no ambiente do teatro", contou Beatriz. Ela relatou, ainda, que temeu ser agredida fisicamente, uma vez que o ator chegou muito perto deles. "Ele estava muito nervoso e batia a bengala no chão", disse Ariel.
Um espectador que não quis se identificar contou que ficou revoltado com a situação. "Desde o começo o ator se mostrou extremamente incomodado com a presença do casal com síndrome de Down na plateia. Várias vezes ele olhava de cara feia e batia a bengala com ignorância no chão para assustá-los", disse a testemunha. "Eles não atrapalharam a peça, o Ariel só levantou uma vez para ir ao banheiro depois de mais de uma hora de peça", afirmou.
"No final, durante os agradecimentos, ele saiu do palco, foi até o casal e os acuou e disse para eles nunca mais voltarem ao teatro porque eles atrapalharam a peça toda", descreve. "Quando um grupo de espectadores foi questioná-lo, ele foi extremamente grosseiro e berrou a quem quisesse ouvir que não se desculparia.
Desdobramentos
Isabel Campinho, advogada e irmã de Beatriz, informou que nesta terça-feira (23) foi registrado um Boletim de Ocorrência na 1ª Delegacia de Polícia da Pessoa com Deficiência de São Paulo. De acordo com a advogada, os próximos passos ainda estão sendo decididos.
"Gostaríamos de, no mínimo, gerar um desconforto. Ele vai ter que prestar depoimento, vai ter a reputação afetada", diz Isabel. "isso nunca deveria acontecer, mas hoje em dia, menos ainda", acredita.
Ariel, que estrelou o longa Colegas, de 2012, afirma que é preciso encarar o preconceito, para evitar que mais pessoas passem por esse tipo de situação. "Chega! Acabou! A gente está no nosso limite de aguentar preconceito", disse.
"Não é só questão de se defender", afirma Beatriz, "mas temos que ter coragem para enfrentar essas situações", afirmou. "Se nós não lutarmos pela inclusão, o que vai ser da gente?"
A reportagem do Brasil de Fato tentou contato com Luciano Chirolli, com o perfil da peça Longa Jornada Noite Adentro, com a empresa que presta assessoria de imprensa da peça e com Selma Morente, que aparece como assessora de imprensa da peça na ficha técnica, mas não obteve resposta. A reportagem será atualizada se houver respostas.
Em entrevista à Folha de S. Paulo, Chirolli alegou que a situação foi um engano e que pediu para que eles se "comportassem melhor porque o teatro é um lugar sagrado para os atores".
"O que eu falei é que nós precisamos de silêncio para trabalhar. A falta de silêncio dele —dela não, ela ficou quietinha— tinha me desconcentrado muito e tinha prejudicado o trabalho. Então que quando eles fossem novamente ao teatro, para que não tivessem o mesmo comportamento. Foi isso", afirma Chirolli à coluna da jornalista Mônica Bergamo.
Edição: Rodrigo Durão Coelho