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Museu virtual sobre escândalos da Lava Jato reúne extensa documentação jurídica e midiática

O projeto, de iniciativa de vários juristas, jornalistas, historiadores tem a coordenação geral do advogado Wilson Ramos

Brasil de Fato | Curitiba (PR) |
Objetivo da iniciativa é disputar as narrativas sobre a história dos sete anos de Lava Jato - Edilson Dantas

Inaugurado na segunda (01º), o Museu da Lava Jato, tem uma extensa documentação jurídica, entrevistas, artigos acadêmicos e notícias com o objetivo de expor as irregularidades da operação. O projeto é uma iniciativa de um grupo de juristas, jornalistas e historiadores que pretende legitimar a memória popular sobre a operação que passou de uma iniciativa de grande apelo popular para um grande escândalo internacional a partir do conluio entre procuradores e magistrado.

“Lembrar para não repetir. Esse é o foco principal do Museu da Lava Jato, a exemplo de tantos outros museus que buscam institucionalizar a memória de períodos de trevas pelos quais passaram determinadas sociedades em determinados períodos históricos”, explica o jurista Wilson Ramos Filho, conhecido como Xixo, presidente do conselho curador do museu.

O espaço virtual está organizado em três seções. A primeira é o Centro de Documentação da Lava Jato, que reúne grande acervo sobre a operação e seus desdobramentos. São duas estruturas que completam-se: o acervo jurídico e jornalístico. Atualmente, a base de dados conta com 45 processos, sendo 31 completos, desde a denúncia apresentada até a sentença dos casos. Os processos envolvendo o ex-presidente Lula terão uma seção própria, com ações penais, habeas corpus e outros procedimentos jurídicos.

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Lawfare

A segunda seção é o Núcleo de Pesquisa de Lawfare do Brasil, o termo é utilizado para descrever quando o direito e a justiça tornam-se armas para serem empregadas contra determinados grupos ou pessoas com objetivos específicos.

No caso do Museu da Lava Jato, o grupo tem como função reunir trabalhos científicos, historiográficos e jornalísticos sobre a utilização das leis e do aparato jurídico e judicial com objetivos políticos e ideológicos no Brasil. O grupo também ficará responsável pela orientação da produção de pesquisas acadêmicas e de projetos de pesquisa por grupos em diferentes instâncias e áreas do conhecimento com a temática de Lawfare e sobre as formas de Violência Jurídica, Social, Política, Econômica, Psicológica e Institucional no Brasil.

Vigília Lula Livre

A terceira seção é dedicada à Vigília Lula Livre, espaço e movimento de resistência contra a prisão política do ex-presidente Lula. Foi lá, em frente à sede da Superintendência da Polícia Federal em Curitiba, que durante os 580 dias nos quais Lula esteve preso, apoiadores prestaram sua solidariedade e o acompanharam durante todo o período.

Esse espaço, inclusive, será construído de forma coletiva com quem esteve na vigília, com depoimentos e fotos que poderão ser enviadas ao Museu através do próprio site.

Denunciar a Operação Lava Jato

Entrevistados pelo programa Quarta Sindical, parceria entre o Brasil de Fato Paraná e a CUT, os coordenadores do Museu da Lava Jato, o advogado Felipe Mongruel e o jornalista Diogo Silva, disseram que o objetivo é expor de forma clara as irregularidades da operação.

“O nome do Museu não é uma homenagem, mas sim trazer o que eles diziam combater, que era a corrupção, e mostrar que foi o que eles mais cometeram. Foram eles os corruptos. O conceito de corrupção de você obter vantagem a partir de um meio ardil. A Lava Jato simulou que existiam pessoas justiceiras, mas no final descobriu-se que eles, com uma suposta moralidade, estabeleciam um método que não segue as regras legais desse país.[A operação] descumpriu preceitos legais e constitucionais”, explica Mongruel.

Já para Diogo Silva, que coordena a parte de comunicação do projeto, o objetivo é também explicitar a disputa de narrativas que aconteceu ao longo dos sete anos de Lava Jato.

“Foram várias irregularidades apontadas por juristas do Brasil e fora dele. Nos últimos anos, podemos dizer que fomos bombardeados de informações. Encerrada a operação, o museu traz o balanço deste capítulo da história. Por exemplo, repercutimos falas de juristas que desde o início já falavam que existiam irregularidades na operação e que eram informações muitas vezes bloqueadas para acesso da população”, conta.

O acervo de mídia é composto por notícias publicadas entre 17 de março de 2014 e 03 de fevereiro de 2021. “Este será um processo em constante atualização. Seguiremos atualizando e inserindo novas informações, processos e reportagens sobre a operação ao longo dos próximos meses”, diz Silva.

Fonte: BdF Paraná

Edição: Lia Bianchini