Guerra e paz

Indústria bélica é "vencedora" da cúpula da Otan, diz pesquisador

Aumento do gasto em armas desencadeado pela guerra na Ucrânia movimento o complexo industrial-militar

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Biden fala com a imprensa na cúpula da Otan - Brendan Smialowski / AFP

Os países da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) concordaram em sua última cúpula, encerrada nesta quinta-feira (30), em reformular seu documento de doutrina e definiram a Rússia como "a ameaça mais significativa e direta à segurança dos Aliados e à paz e estabilidade na zona euro-atlântica".

Eles também reforçaram suas posições na Europa Oriental, anunciaram uma controversa ampliação, com novos membros e também acordaram um investimento conjunto de um bilhão de euros em um "Fundo de Inovação".

"Em um momento em que [o presidente da Rússia Vladimir] Putin destruiu a paz na Europa e atacou os próprios princípios da ordem baseada em regras, os Estados Unidos e nossos aliados estão se esforçando para apoiar a Ucrânia e aumentar nossas defesas", afirmou o presidente dos EUA Joe Biden.

O novo documento de doutrina também destaca que a China, por meio de suas "ambições declaradas e políticas coercitivas", busca "desafiar nossos interesses, segurança e valores". Ele pode ser lido na íntegra (em inglês) neste link.

Tecnologia militar e civil

O novo Fundo de Inovação prevê o investimentos em "inteligência artificial; processamento de big data; tecnologias quânticas; autonomia; biotecnologia e aprimoramento humano; novos materiais; energia; propulsão e espaço". Estão previstos aportes financeiros em tecnologias de dupla utilização, que podem ter fins tanto civis como militares.

Os anúncios marcam uma boa notícia para o complexo industrial-militar na avaliação do professor de relações internacionais da Universidade Federal do ABC (UFABC) Flávio Rocha de Oliveira. Como os Estados Unidos são donos da maior indústria militar do mundo, e também são o país que mais gastam com armas, parte considerável desses recursos deverá ser convertida em dólares.

O pesquisador cita o plano confirmado pelo secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, dos 30 países da aliança de aumentar seus gastos em defesa e cita um caso específico: a Alemanha. Após a invasão da Ucrânia pela Rússia, Berlim anunciou investimentos substantivos em suas Forças Armadas. O Parlamento alemão aprovou um pacote de 100 bilhões de euros para modernizar seus militares, quantia suficiente para colocar a Alemanha como um dos maiores orçamentos militares do mundo.

"O complexo industrial-militar, especialmente o complexo dos EUA e o ligado aos EUA, ou seja, vários grupos europeus que têm projetos conjuntos para entrar no mercado americano com conglomerados estadunidenses, esse complexo industrial é claramente um vencedor [da cúpula da Otan]. Já está havendo um aumento das encomendas", diz Rocha ao Brasil de Fato.

O Departamento de Defesa dos EUA afirma que Washington já enviou US$ 6,1 bilhões (cerca de R$ 34 bilhões) em "assistência de segurança" à Ucrânia desde o início da guerra. Os recursos incluem helicópteros, drones, armas, sistema de artilharia, entre outros. Além disso, reportagem do The New York Times revelou que os EUA têm uma rede de comandantes militares e espiões auxiliando no treinamento dos ucranianos em diferentes partes da Europa. Parte deles está na própria Ucrânia, embora não esteja na linha de frente, e fornece treinamento aos ucranianos.

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Nova expansão

A cúpula da Otan também foi marcada pela decisão da Turquia de retirar seus vetos e concordar com a entrada de Suécia e Finlândia no bloco militar. Um memorando de entendimento foi assinado em Madrid, capital da Espanha e palco da cúpula, e aumentará a fronteira da aliança com a Rússia.

A aproximação da Otan e o avanço da aliança rumo às suas fronteiras é frequentemente apontada pelos russos como uma fonte de descontentamento e um dos argumentos de Moscou para justificar a invasão da Ucrânia.


Marcos da expansão da Otan / Brasil de Fato

Putin afirmou que não vê problema na entrada dos dois países na Otan, o que aumentaria o número de nações na aliança para 32, e que não tem "diferenças territoriais" com eles, mas destacou que "se contingentes e infraestrutura militares fossem mobilizados lá, seríamos obrigados a responder de forma simétrica e fazer as mesmas ameaças àqueles territórios de onde tiverem surgido ameaças a nós".

Para Flávio Rocha de Oliveira, a nova expansão da Otan não é uma novidade: "No final das contas, a entrada da Suécia e da Finlândia, em que pese ser uma vitória diplomática da Otan e uma derrota diplomática da Rússia, na verdade só está chancelando o óbvio, esses países já têm todo um dispositivo de produção de armas, de indústria de defesa, de concertação diplomática de compra de armas de fornecedores ocidentais que é totalmente alinhado com os padrões da Otan".

Edição: Rodrigo Durão Coelho