Jornalismo na mira

Extradição de Assange é "terrível precedente", diz Federação Internacional de Jornalistas

Entidade afirma que governo britânico toma decisão "vergonhosa" ao chancelar extradição do fundador do WikiLeaks

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Projeção em Londres defende a liberdade de Assange - WikiLeaks

Enviar Julian Assange para os Estados Unidos é um "verdadeiro golpe" para a liberdade de imprensa, afirmam em nota conjunta a Federação Internacional de Jornalistas e as Federações Europeias de Jornalistas nesta sexta-feira (17). O comunicado destaca que Assange está detido em uma prisão de segurança máxima nos arredores de Londres por mais de três anos, "apesar dos riscos à sua saúde mental e física."

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Após o judiciário britânico chancelar a extradição, a ministra do Interior do Reino Unido, Priti Patel, autorizou nesta sexta-feira a extradição de  Assange para os Estados Unidos. A defesa do jornalista afirma que ainda tentará apelar novamente, mas a extradição pode ocorrer em poucos dias.

O processo contra o fundador do WikiLeaks começou durante o governo do então presidente Donald Trump e continua com Joe Biden na Casa Branca. O Departamento de Justiça dos EUA utiliza uma lei contra a espionagem aprovada durante a Primeira Guerra Mundial para processar o jornalista.

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"A decisão do Ministério do Interior do Reino Unido de permitir a extradição de Julian Assange é vingativa e um verdadeiro golpe para a liberdade de imprensa. Assange simplesmente expôs questões que eram de interesse público e o fracasso de Priti Patel em reconhecer isso é vergonhoso e abre um terrível precedente para todos aqueles que lutam diariamente para dizer a verdade. Nossa esperança agora está em um recurso bem-sucedido contra essa decisão. Todos os jornalistas devem apoiar Julian Assange, que os permitiu revelar os crimes de guerra do exército dos EUA no Iraque e no Afeganistão", disse Dominique Pradalié, presidenta da Federação Internacional de Jornalistas.

A presidenta das Federações Europeias de Jornalistas, Maja Sever, classificou a decisão britânica como "vergonhosa" e disse que ela irá alegrar "os autocratas e os inimigos da liberdade de imprensa". "Bastará acusar os jornalistas que denunciam crimes de guerra ou corrupção de espiões para que sejam extraditados. Este é um verdadeiro escândalo", afirmou Sever.

No Brasil, a Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), a Associação Brasileira de Imprensa (ABI), a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) e o Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC) apoiaram o posicionamento das entidades internacionais.

O diretor-executivo do Comitê para a Proteção dos Jornalistas, Robert Mahoney, pede que o governo de Biden "cumpra seu compromisso declarado com uma imprensa livre, retirando todas as acusações contra o fundador do WikiLeaks".

Agnes Callamard, secretária-geral da Anistia Internacional, também criticou a decisão e disse que caso a extradição realmente ocorra, Assange sofre um "alto risco" de enfrentar um período prolongado em uma cela solitária. "As garantias diplomáticas fornecidas pelos EUA de que Assange não será mantido em confinamento solitário não podem ser levadas em consideração", destacou Callamard. "Pedimos ao Reino Unido que se abstenha de extraditar Julian Assange, que os EUA retirem as acusações e que Assange seja libertado."

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O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou em suas redes sociais que é preciso perguntar qual crime Assange cometeu para ser extraditado.

"Hoje tomaram a decisão de extraditar o Assange para os EUA. E se ele for extraditado, certamente é prisão perpétua, e ele morrerá na cadeia. E nós, que estamos aqui falando de democracia, precisamos perguntar: que crime o Assange cometeu? Ele só falou a verdade. Ele denunciou as falcatruas e espionagens feitas pelo país mais importante do planeta. Os EUA pediram desculpas para Angela Merkel, mas não ao Brasil. Se alguém cometeu um crime foi quem, em nome dos EUA, estava espionando outros países. Inclusive espionando sobre a Petrobrás", afirmou o petista.

Jeremy Corbyn, liderança do Partido Trabalhista do Reino Unido, afirmou que continuará a lutar pela liberdade do jornalista do WikiLeaks e considerou a decisão do Ministério do Interior "totalmente errada" e a marca de "um dia muito sombrio para a liberdade de imprensa e o sistema de justiça".

Edição: Nicolau Soares