Jornalismo na mira

Assange nos EUA é de interesse de indústria de armas e capital financeiro, diz Sergio Amadeu

Professor da UFABC afirma que caso de extradição do jornalista é "farsa" e demonstra continuidade entre Trump e Biden

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Sérgio Amadeu, pesquisador da UFABC, crítica extradição de Assange. Na foto, em debate "Internet como Espaço Público", em 2015 / Tânia Rêgo/Agência Brasil
Sérgio Amadeu, pesquisador da UFABC, crítica extradição de Assange. Na foto, em debate "Internet como Espaço Público", em 2015 / Tânia Rêgo/Agência Brasil - Foto: Tânia Rêgo / Agencia Brasil

Ao buscar a extradição de Julian Assange, os Estados Unidos demonstram que os responsáveis por ditar os rumos do país já "romperam há muito tempo com a democracia", afirma o sociólogo e professor da Universidade Federal do ABC (UFABC) Sergio Amadeu. Nesta sexta-feira (17), a ministra do Interior do Reino Unido, Priti Patel, autorizou o envio do jornalista ao país que usa uma lei contra a espionagem da Primeira Guerra Mundial para processar o jornalista do WikiLeaks.

Se condenado, Assange poderá receber uma pena de até 175 anos atrás das grades. Ele é responsável por ajudar na divulgação de possíveis crimes de guerra estadunidenses em suas invasões no Oriente Médio, no Iraque e no Afeganistão. Detido há mais de três anos na prisão de segurança máxima de Belmarsh, nos arredores de Londres, a defesa ainda tem 14 dias para recorrer, mas uma decisão final pode ser tomada antes disso.

“Eles atuam como a máfia e querem mostrar ao mundo inteiro que ninguém pode colocar em risco seus interesses mais profundos sem ser dizimado e isso nos obriga a ir para outro estágio na luta em defesa liberdade de imprensa, nós temos que declarar que os EUA são um país que têm presos políticos, um país que ataca o direito de existir do jornalismo investigativo", diz Amadeu ao Brasil de Fato.


Protesto pela liberdade de Assange na Bélgica / John Thys / AFP

O processo contra Assange começou durante o governo do republicano Donald Trump, mas continua com o democrata Joe Biden na Casa Branca. Durante a gestão Trump, a CIA teria trabalhado em planos para matar ou sequestrar o jornalista, segundo reportagem do Yahoo News, que afirma ter realizado entrevistas com mais de 30 ex-funcionários da inteligência dos EUA.

A continuidade do processo contra o jornalista durante o governo de um presidente de um partido diferente não surpreende o professor da UFABC. Para Amadeu, embora existam diferenças consideráveis entre os dois mandatários, "quem manda nessa história é a indústria armamentista, é o capital financeiro e, mais recentemente, essa indústria digital, essas plataformas digitais."

“Com mais esse ato, [os EUA] mostram que a democracia liberal que eles tanto dizem defender está sendo minada pelas suas próprias ações", completa Amadeu.

Edição: Arturo Hartmann