REPRESSÃO

Presidente da Confederação Indígena do Equador é preso durante paralisação nacional

Leonidas Iza foi detido na madrugada de terça-feira (14), Conaie acusa "sequestro" de líder político

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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O presidente da Conaie, Leonidas Iza Salazar - Cristina Vega Rhor /AFP

O presidente da Confederação de Nacionalidades Indígenas do Equador (Conaie), Leonidas Iza Salazar, foi preso durante a paralisação nacional na madrugada desta terça-feira (14). A Conaie acusa as Forças Armadas e grupos de elite de "sequestrar" seu líder político. A mobilização nacional foi convocada pelos movimentos indígenas com dez pontos de exigências ao governo do presidente Guillermo Lasso.

Salazar foi detido por volta da 1h da manhã desta terça-feira, em Pastocalle, quando participava de um bloqueio da rodovia Panamericana — que conecta o norte ao sul do país — acusado de supostos delitos de rebelião e paralisação do serviço público. 

"Grupos de elite da política e das Forças Armadas detêm de maneira ilegal a Leonidas Iza Salazar, presidente da Conaie. Convocamos nossa organização a radicalizar as medidas pela liberdade do nosso máximo líder e pela dignidade da nossa luta."

Duas horas mais tarde, o presidente Lasso publicou um vídeo condenando supostos "atos de vandalismo".

"Detrás desses delitos há autores intelectuais e materiais que devem responder ao povo equatoriano [...] Por isso iniciamos a detenção de autores materiais, intelectuais e executores destes atos violentos. Agora o Ministério Público e o poder judicial devem atuar, porque ninguém está acima da lei", declarou o presidente. 

"Agora que começamos a nos reativar, #NãoPodemosParar. Aqueles que cometerem atos de vandalismo responderão à justiça e ao povo equatoriano", disse Lasso em sua rede social.

Caso o presidente da Conaie seja condenado, pode receber pena de até dez anos de prisão, segundo o código penal equatoriano. 

Durante o dia de paralisação, foram registrados cerca de 20 bloqueios de rodovias em 11 províncias. Entre as exigências da greve nacional estão a redução dos preços dos combustíveis, preços justos para produtos agrícolas, mais emprego e respeito aos direitos trabalhistas.

A Conaie convocou a mobilização após reuniões realizadas em 11 de junho, 4 de outubro e 10 de novembro de 2021 terminarem sem acordo.

Esta é a segunda vez que Salazar é detido por organizar manifestações populares. Durante as duas semanas de greve geral de 2019 contra o fim dos subsídios aos preços do combustível, que foram usados pelo então presidente Lenin Moreno como justificativa para decretar estado de sítio, ele também foi preso. 

Iza era presidente do Movimento Indígena e Camponês Cotopaxi e ajudou a mobilizar bloqueios de rua e manifestações em direção a Quito. 

Em março deste ano, 268 pessoas foram anistiadas pela Assembleia Nacional equatoriana de processos ligados à greve geral de 2019, sendo 153 defensores de territórios comunitários, 43 defensores da natureza e 60 acusados por exercer direito à resistência e ao protesto social. 


Executivo equatoriano envia Forças Armadas para custodiar unidade de delitos flagrantes do Ministério Público em Quito / Conaie

A Aliança de Organizações de Direitos Humanos do Equador publicou uma denúncia pública afirmando tratar-se de uma detenção ilegal e arbitrária. 

"A paralisação não é um delito, mas o exercício legal e legítimo de protesto e resistência, direitos protegidos constitucionalmente que altas autoridades governamentais têm se dedicado a estigmatizar", criticam

A Confederação convocou a manter um "levante indígena" em todo o território equatoriano para denunciar a detenção de Salazar. 
    
"Responsabilizamos o governo nacional por qualquer violação a sua vida ou integridade física. Diante da detenção ilegal e arbitrária, o governo deixa claro que não está disposto a escutar o povo. Por isso convocamos todas as nossas estruturas organizativas a radicalizar a luta a nível nacional", disse a meios locais a vice-presidenta da Conaie, Zenaida Yasacama.

A Confederação ressalta que não sabe qual é o paradeiro do dirigente. As autoridades equatorianas não respondem aos questionamentos da Conaie, mas a organização denuncia que a unidade de flagrantes delitos do Ministério Público em Quito teve sua segurança reforçada.

Edição: Thales Schmidt