Com a expectativa de votação do piso nacional da enfermagem nesta quarta-feira (4), no plenário da Câmara dos Deputados, o Congresso Nacional se tornou palco de novas mobilizações da categoria pela aprovação da pauta. Reunidas em frente ao prédio da Casa, caravanas de diferentes lugares do país protestaram em Brasília (DF) para amplificar o eco em defesa da proposta.
“A expectativa é grande de que hoje a gente não sai daqui sem esse projeto de lei aprovado”, afirma a técnica de enfermagem Iraciara Belizário, que saiu de Vitória (ES) com um grupo de 48 profissionais.
A manifestação desta quarta-feira foi organizada para pressionar os deputados a chancelarem o texto. Iraciara ressalta que a batalha do segmento por um piso nacional já é histórica e menciona a preocupação com os baixos salários.
“Hoje um técnico de enfermagem está recebendo um salário mínimo e um auxiliar até menos que isso. Muitas vezes temos que trabalhar em dois, três empregos pra sustentar nossas famílias, e isso faz com que a gente adoeça física, mental e emocionalmente e adoeça as nossas famílias junto”, desabafa.
O discurso de Iraciara é semelhante ao do técnico de enfermagem Eduardo de Andrade Quintas, que veio à capital federal em uma comitiva do Conselho Regional de Enfermagem de Pernambuco (Coren-PE). A entidade articulou cerca de 30 pessoas para virem a Brasília.
Ele menciona que o estado tem hoje a média salarial mais baixa do país, com técnicos e enfermeiros recebendo cerca de R$ 774 e R$ 1.200, respectivamente. Com a eventual aprovação do piso nacional, a expectativa é de que haja um efeito cascata que beneficie as bases estaduais.
“Em alguns locais, alguns profissionais já recebem mais [que a média de Pernambuco], mas a gente não pode deixar de fazer essa luta porque tem que pensar no coletivo. Queremos uma dignidade pra que os profissionais recebam a partir do valor do piso. A gente sabe que merecem mais, mas pelo menos partiremos de um valor, e aí será daí pra cima”.
O Projeto de Lei (PL) 2564/2020 prevê um piso nacional de R$ 4.750 para enfermeiros, 70% desse valor para técnicos de enfermagem e 50% para auxiliares de enfermagem e parteiras.
A grande mobilização costurada em torno do projeto tem contribuído também para alimentar as expectativas de quem ainda é estudante de enfermagem. É o caso de Isabela Costa, que atua no Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos de Serviços de Saúde de Umuarama e Região (Seessu), no Paraná, e veio a Brasília especialmente para participar do ato.
“A gente torce pra que seja aprovado porque a gente precisa da valorização da enfermagem, precisa de um piso. Nossa categoria é muito desvalorizada pelo que a gente recebe e eu, como estudante do quinto ano, estarei na ativa ano que vem como enfermeira e espero que seja aprovado o PL do piso.”
Votação
Para colocar a medida em votação nesta quarta, foi costurado um arco de alianças envolvendo diferentes lideranças partidárias. A projeção é de que o PL seja aprovado com ampla maioria, assim como ocorreu no Senado, que chancelou o texto em novembro de 2021.
“Tem amplo apoio, tem acordo das bancadas pra que fosse pautado no dia de hoje, mas isso só foi possível graças à mobilização. Acho que a pandemia trouxe à tona a importância dos trabalhadores e trabalhadoras da enfermagem e hoje é um dia pra se selar uma vitória que é histórica”, calcula a deputada Sâmia Bomfim (PSOL-SP).
Edição: Felipe Mendes