Os crimes ambientais que impulsionam cada vez mais o desmatamento da Amazônia se tornaram negócios milionários, atrelados a crimes violentos, fraudes, corrupção e até tráfico de drogas.
Essa rede de atividades ilícitas foi mapeada por um levantamento do Instituto Igarapé, ONG que atua nas áreas de segurança pública, climática e digital. Foram analisadas 369 operações com a participação da Polícia Federal (PF) na Amazônia Legal entre 2016 e 2021.
“A partir do estudo a gente mostra que o crime ambiental na verdade não acontece sozinho. Ele precisa de muito financiamento e é envolto por um ecossistema muito mais complexo”, afirma Melina Risso, diretora do Instituto. (Continua após o vídeo.)
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Operações têm crescido, mas são insuficientes
A face mais visível da atuação dos criminosos está em atividades que degradam diretamente a floresta, como a extração ilegal de madeira, o garimpo ilegal, a grilagem das terras públicas e a agropecuária.
Segundo a pesquisa, metade das operações analisadas está ligada a associações ou organizações criminosas. Quase um terço das ações estão relacionadas a crimes violentos contra a pessoa, trabalho escravo, tráfico de drogas ou posse de armas, munições e explosivos.
Segundo o Instituto Igarapé, a frequência desses crimes vem aumentando. Os flagrantes de armas, munições e explosivos, por exemplo, mais que dobraram entre 2016 e 2021. O estudo aponta ainda que 60% das operações tinham foco em mais de uma atividade ilegal.
“Há uma expansão do desmatamento e das economias ilícitas. Por mais que as operações [policiais na Amazônia] tenham crescido no último ano, elas ainda são insuficientes para fazer frente ao avanço do crime ambiental”, salienta Risso.
"Camada vulnerável" é explorada pelo topo da pirâmide
O garimpo de ouro foi a atividade que mais se conectou com crimes tributários, lavagem de dinheiro e outros crimes ambientais, como a poluição. Atos de corrupção e lavagem de dinheiro estão presentes em cerca de 20% das operações.
“Parece que o crime ambiental, pela segurança pública, é quase um crime menor. E o que a gente vem mostrando é que é um crime muito organizado, com uma estrutura pesada financiando essa dinâmica e com outras repercussões, tanto do ponto de vista ambiental, como social e econômico.
A diretora do Instituto Igarapé aponta a existência de uma “camada vulnerável” de pessoas usadas como mão de obra nos grandes empreendimentos ilegais. É o elo mais fraco das economias ilícitas na floresta.
“A gente observa inclusive trabalho escravo, por exemplo. Precisamos ter medidas protetivas que deem resposta a esses trabalhadores que acabam se envolvendo e sendo explorados pelo crime ambiental”, alerta.
É preciso responsabilizar os mandantes, diz ONG
Das 369 operações analisadas, em 69 as informações sobre os desdobramentos judiciais não foram disponibilizadas publicamente. Das 300 ações restantes, 56 (19%) tiveram indiciamentos por crime ambiental e 57 (19%) tiveram envolvidos indiciados apenas por crimes não ambientais. Outras 24 operações (8%) não apresentaram nenhum indiciamento.
Para o Instituto Igarapé, a sensação de impunidade pode estimular a continuidade dos crimes. O levantamento conclui que o cenário complexo exige uma "sobreposição de competências” dos órgãos responsáveis por proteger o bioma.
O estudo indica ainda a necessidade de políticas de desenvolvimento socioeconômico que retirem pequenos infratores do ecossistema de crimes. Por outro lado, é preciso responsabilizar os mandantes e financiadores da devastação ambiental.
“A gravidade e o alcance dos danos ambientais traz consequências a toda a população. Portanto é prioridade que a gente coloque o combate ao crime ambiental no topo da nossa agenda política", reforça Risso.
Edição: Felipe Mendes