O presidente da China, Xi Jinping, destacou que a crise na Ucrânia "não é algo que queremos ver" em conversa por telefone com seu homólogo dos Estados Unidos, Joe Biden, nesta sexta-feira (18). É a primeira conversa dos dois líderes desde uma última reunião virtual realizada em novembro de 2021, e a agenda não deixou de fora a guerra entre Ucrânia e Rússia — um dos maiores aliados de Pequim na arena internacional.
“Como membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU e as duas principais economias do mundo, devemos não apenas guiar as relações China-EUA no caminho certo, mas também assumir nossa parcela de responsabilidades internacionais e trabalhar pela paz e tranquilidade mundiais”, disse Xi de acordo com a agência estatal chinesa Xinhua.
Ainda de acordo com a Xinhua, o presidente chinês, ao observar as recentes alterações no "cenário internacional" destacou que "a tendência predominante de paz e desenvolvimento está enfrentando sérios desafios, e o mundo não está tranquilo nem estável".
Até o momento da publicação desta reportagem, a Casa Branca ainda não tinha publicado seu relato sobre a conversa entre Xi e Biden.
Antes da conversa telefônica, o Secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, disse que o objetivo da agenda era deixar claro para Pequim os "custos" do apoio chinês aos russos durante a guerra e afirmou estar "preocupado" com a possibilidade de a China oferecer equipamentos militares a Moscou.
"Acreditamos que a China, em particular, tem a responsabilidade de usar sua influência com o presidente [da Rússia Vladimir] Putin e defender as regras e princípios internacionais que ela afirma apoiar", disse o principal diplomata estadunidense. "Em vez disso, tememos que a China esteja indo na direção oposta, recusando-se a condenar essa agressão, enquanto procura se retratar como um árbitro neutro. E estamos preocupados que eles estejam considerando ajudar diretamente a Rússia com equipamentos militares para usar na Ucrânia".
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Pequim fala em hipocrisia
O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Zhao Lijian, afirmou em coletiva de imprensa na quinta-feira (17) que os EUA, Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e "parte da mídia ocidental são muito hipócritas" ao fazer comentários sobre vítimas civis e questionou a postura diante de mortes da população no Iraque, Síria, Afeganistão, Palestina e as mortes causadas pelos bombardeios da Otan na Ioguslávia, em 1999.
Por meio de sua imprensa, o governo da China também transmitiu recados. O jornal estatal chinês Global Times entrevistou "um oficial anônimo" do governo que acusou a Casa Branca de comentários irresponsáveis e imorais. A fonte que falou sem se identificar defendeu a postura de Pequim na guerra da Ucrânia e destacou que a conversa entre Biden e Xi foi um pedido da Casa Branca.
"A China nunca aceitará ameaças e coerção dos EUA, e se os EUA tomarem medidas que prejudiquem os interesses legítimos da China e os interesses das empresas e indivíduos chineses, a China não ficará de braços cruzados e dará uma resposta forte, enfatizou o oficial, observando que os EUA deveriam não ter ilusões ou fazer erros de cálculo sobre isso", escreveu o Global Times.
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"Todo o possível para preservar a vida de civis"
Putin conversou por telefone com o chanceler da Alemanha, Olaf Scholz, nesta sexta-feira (18). De acordo com comunicado divulgado pelo Kremlin, Putin afirmou ao líder alemão que "as Forças Armadas russas estão fazendo todo o possível para preservar as vidas de civis ao organizar corredores humanitários para que a população deixe as cidades na zona de guerra".
O Kremlin ainda disse que o Ocidente "ignorou" bombardeios ucranianos na região separatista pró-Rússia de Donbas e acusou Kiev de "prolongar" as negociações pela paz com "propostas irrealistas".
De acordo com o Alto-comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur), 3.270.662 refugiados já fugiram da Ucrânia desde a eclosão do conflito. A Polônia recebeu a maior parte dessas pessoas e abriga 1,975 milhão de refugiados.
Edição: Arturo Hartmann