Pandemia

Anvisa aprova uso da CoronaVac para a vacinação de crianças e adolescentes entre seis e 17 anos

Até então, a vacinação infantil vinha sendo realizada com doses pediátricas do imunizante da Pfizer

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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No total, são necessárias 40 milhões de doses para imunizar todas as crianças no país. Mas, até o momento, há 30 milhões de doses previstas para o primeiro trimestre do ano. 
No total, são necessárias 40 milhões de doses para imunizar todas as crianças no país. Mas, até o momento, há 30 milhões de doses previstas para o primeiro trimestre do ano.  - Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou, nesta quinta-feira (20), o uso da vacina CoronaVac, do Instituto Butantan, na campanha de imunização infantil contra a covid-19. O órgão recomenda as mesmas formulação, dosagem e posologia aplicadas em adultos para crianças e adolescentes entre seis e 17 anos.

O pedido do Butantan era para crianças e adolescentes entre três e 17 anos. Mas a área técnica da agência nacional entendeu que faltaram dados para englobar toda a faixa etária pretendida. Os técnicos também recomendaram a não aplicação em crianças imunocomprometidas. Gustavo Mendes, gerente-geral de Medicamentos e Produtos Biológicos da Anvisa, e Helaine Carneiro Capucho, gerente de Farmacovigilância, fizeram orientações para a aprovação da vacina pela diretoria colegiada.

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"São os dados que temos maior informação [seis a 17 anos] e maior sugestão de desempenho. São os dados do Chile, de efetividade do Chile. Isso também é corroborado com os pareceres das sociedades médicas. E não imunocomprometidas porque essas crianças precisam de uma atenção especial, principalmente no que diz respeito a eficácia. A sugestão é que sejam vacinas crianças de seis a 17 anos até que haja a apresentação de novos dados para subsidiar a ampliação da faixa etária", disse Mendes.

A votação

A votação começou com Meiruze Sousa Freitas, diretora relatora, da Segunda Diretoria da Anvisa, que votou a favor. Segundo Freitas, os estudos sobre a aplicação da vacina na população pediátrica apresentaram efetividade de 74,23% para a prevenção da doença; 74,12% contra a doença sintomática; 90,24% contra hospitalização; e 100% contra admissão em UTIs e óbitos. 

“Os resultados sugerem que a vacina foi significativamente efetiva contra hospitalização, internações em UTIs e óbitos na população pediátrica. Tais resultados são importantes na luta para salvar vidas e reduzir expressivamente o impacto no sistema de saúde”, afirmou Freitas. 

“Em que pede a Anvisa ter registrado a vacina da Pfizer para crianças entre 5 e 11 anos, essa vacina ainda não está disponível no Brasil em quantidade suficiente para atender a demanda no primeiro trimestre de 2022 para vacinar cerca de 20 milhões de crianças com as duas doses previstas. Soma-se a esse cenário a rápida disseminação da variante ômicron e os riscos da sua contaminação.” 

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No total, serão necessárias 40 milhões de doses para imunizar todas as crianças no país. Mas, até o momento, há 30 milhões de doses previstas para o primeiro trimestre do ano. 

Até agora, a vacinação infantil está sendo realizada com doses pediátricas do imunizante da Pfizer. O indígena Davi Seremramiwe Xavante, de 8 anos, foi a primeira criança imunizada contra a doença no Brasil, no dia 14, em São Paulo. 

Além de Meiruze Sousa Freitas, outros quatro diretores votaram durante a reunião extraordinária: Antonio Barra Torres, Cristiane Rose Jourdan Gomes, Romison Rodrigues Mota e Alex Machado Campos. Como a votação é de maioria simples, a CoronaVac foi aprovada com os votos de Alex Machado Campos e Romison Rodrigues Mota, que seguiram a relatora.

Posicionamento contrário à vacinação infantil  

Mesmo com a aprovação da Anvisa e a realização da consulta pública, o presidente Jair Bolsonaro (PL) voltou a criticar a vacinação em crianças, após a divulgação do cronograma de imunização. Em entrevista à TV Nova Nordeste, de Pernambuco, Bolsonaro acusou os técnicos da Anvisa de terem algum tipo de interesse na liberação do imunizante.  

“Você vai vacinar seu filho contra algo que o jovem por si só, uma vez pegando o vírus, a possibilidade de ele morrer é quase zero? O que é que está por trás disso? Qual é o interesse da Anvisa por trás disso aí? Qual é o interesse daquelas pessoas ‘taradas por vacina’? É pela sua vida? É pela sua saúde? Se fosse, estariam preocupados com outras doenças do Brasil, que não estão”, afirmou o presidente.  

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No mesmo dia em que a Anvisa aprovou a vacinação infantil, em 16 de dezembro, o presidente declarou que havia solicitado “extraoficialmente” a lista dos diretores que aprovaram o imunizante para que “todo mundo tome conhecimento quem são essas pessoas e obviamente forme seu juízo”. Em nota, o Conselho Nacional de Saúde (CNS), afirmou que considera que a declaração demonstra “explícita ameaça para comprometer o livre exercício das atividades regulatórias da Anvisa”.  

Diante dessas e outras declarações do presidente, uma pesquisa Datafolha, divulgada no último domingo (16), mostrou que 58% dos brasileiros de 16 anos ou mais de idade acreditam que Bolsonaro mais atrapalha do que ajuda em relação à imunização das crianças. Em termos absolutos, o percentual equivale a 97,3 milhões de pessoas.  

Edição: Vinícius Segalla