BLOQUEIO

Bloco de nações africanas impõe embargo contra Mali após golpe e adiamento de eleições

Governo provisório militar adiou eleições de fevereiro de 2022 para permanecer no poder até 2026

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Asimi Goita assumiu a presidência interina de Mali após protagonizar golpes em 2020 e 2021 - Annie Risemberg / AFP

A Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (Ecowas, na sigla em inglês) aprovou fechar fronteiras e bloquear os ativos no exterior de Mali contra a decisão do governo militar interino de adiar as eleições. O pleito estava previsto para 27 de fevereiro deste ano, no entanto a junta militar que assumiu o poder após um golpe de Estado afirma não haver condições de segurança e propõe adiar as eleições para 2026.

O presidente interino, Assimi Goita, declarou que o governo permanece aberto para dialogar com a Comunidade de Estados Africanos Ocidentais, apesar de considerar a decisão "ilegítima e inumana".

O bloco composto por 15 nações africanas também declarou que todos os países membros irão convocar seus embaixadores em Bamako, capital do Mali, para consultas diplomáticas e afirmou em comunicado que o adiamento das eleições significa que "o ilegítimo governo militar de transição manterá o povo malinês como refém durante os próximos anos".

Em resposta, Goita afirmou que seu "compromisso para o regresso da ordem constitucional pacífica e segura nunca fraquejou. Pedimos ao Ecowas uma análise profunda da nossa situação, pensando nos interesses do povo de Mali, em cima de outras considerações".

Para o governo interino é necessário realizar uma conferência nacional que aprove uma nova Constituição antes de realizar o processo eleitoral.


Em Bamako, capital do Mali, cidadãos malineses se manifestaram contra as sanções impostas pelo bloco de Estados do Oeste Africano / Florent Vergnes / AFP

Entenda o caso

Assimi Goita assumiu o poder em maio de 2021 após protagonizar o segundo golpe de Estado em menos de dois anos no país.

Em agosto de 2020, o alto comando militar do país destituiu e prendeu o então presidente eleito Ibrahim Boubacar Keita, em meio a protestos que denunciavam a corrupção do governo civil. O Conselho Nacional de Transição havia se comprometido a convocar novas eleições em 18 meses. 

No entanto, o coronel Assimi Goita, líder do golpe de agosto de 2020, foi declarado chefe de Estado em 28 de maio de 2021 pelo Tribunal Constitucional após cerca de 10 dias de negociações para a formação de um novo governo provisório e a prisão do ex-presidente do Conselhio de Transição, Bah N' Daw, e o primeiro-ministro Moctar Ouane.

Mali é um país com 20,2 milhões de habitantes, com um PIB de US$ 17,39 bilhões (cerca de R$ 95,6 bilhões), alimentado em 70% pela produção agrícola de algodão e cereais. O território malinês também abriga jazidas de ouro, mármore e granito, sendo a mineração a segunda atividade econômica nacional.

Em 2019, a dívida externa do país era de US$6,2 bilhões com cerca de 42% da população vivendo em situação de pobreza, de acordo com dados do Banco Mundial.

Entre 2012 e 2014, o Mali foi ocupado militarmente por tropas da Missão Integrada de Estabilização no Mali da ONU (MINUSMA), que tinham o objetivo de conter os conflitos no norte e estabilizar o país para realizar eleições, que terminaram com a vitória de Ibrahim Boubacar Keita.

* Com informações de CGTN África, AfricaNews e RT

Edição: Thales Schmidt