O ex-ministro da Saúde e deputado federal Alexandre Padilha (PT-SP) protocolou, nesta sexta (7), uma representação na Procuradoria-Geral da República (PGR) e outra na Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANDP) contra a deputada governista Bia Kicis (PSL-DF). A iniciativa foi motivada pelo vazamento de dados pessoais de médicos pró-vacinação infantil, ocorrido esta semana em redes virtuais bolsonaristas.
A veiculação colocou a deputada na berlinda porque, em entrevista concedida na quinta (6) à colunista Malu Gaspar, do jornal O Globo, a pesselista confessou ter compartilhado documentos em um grupo de WhatsApp. Ela nega, no entanto, que seja a responsável pelo vazamento em si.
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“É inadmissível qualquer parlamentar, ainda mais alguém que preside a CCJ da Câmara, que tem como missão ser a guardiã do debate constitucional, se utilizar desse cargo [pra participar] de uma audiência que era uma verdadeira farsa pra montar palanque pro negacionismo e, com isso, permitir que dados de técnicos competentes pudessem ser espalhados pra que fossem pressionados pela horda negacionista antivacina”, critica Padilha.
O episódio envolve os médicos Isabella Ballalai, vice-presidenta da Sociedade Brasileira de Imunizações, Marco Aurélio Sáfadi, da Sociedade Brasileira de Pediatria, e Renato Kfouri, diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações.
Eles participaram de audiência promovida pelo Ministério da Saúde (MS) na última terça (4), quando se manifestaram favoráveis à imunização de crianças de 5 a 11 anos contra a covid, tema que os bolsonaristas têm tentado polemizar por meio de discursos negacionistas. Bia Kicis, por exemplo, segue essa tendência e se diz contrária à imunização compulsória do público infantil. Ela também participou da mesma audiência.
Antes do evento os três profissionais haviam entregue ao MS suas declarações de conflitos de interesses e elas foram veiculadas na internet na íntegra, com CPF, telefone e e-mail. Voltado à ideia da transparência científica, o documento é de uso comum no contexto de atuação da classe médica quando os especialistas vão participar de audiências públicas e traz informações sobre o histórico profissional dos cinco anos anteriores.
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“O Ministério Público precisa apurar fortemente essa atitude e o quanto ela infringe a Lei Geral de Proteção de Dados e as prerrogativas da presidência da CCJ”, afirma Padilha.
O líder da bancada do PT na Câmara, Reginaldo Lopes (MG), também informou, nesta sexta (7), que a sigla irá protocolar uma representação contra Bia Kicis no Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Casa por conta do episódio.
Em suas redes sociais, a parlamentar bolsonarista ironizou, na quinta (6), a iniciativa dos que pedem uma responsabilização de quem escoou os documentos dos médicos.
“Tanto interesse em saber quem vai se responsabilizar por um suposto vazamento de dados de um documento de médicos e nenhum interesse em saber quem vai se responsabilizar por eventuais danos por efeitos colaterais das vacinas em nossas crianças”, disse Kicis, em mais uma manifestação de cunho negacionista.
Diferentes especialistas e entidades médicas e científicas têm defendido a imunização do público infantil contra a covid. O segmento assegura que as vacinas para crianças são seguras e seguem o mesmo padrão de qualidade que norteia a produção das doses para adultos.
Edição: Vinícius Segalla