A Colômbia iniciou 2022 com uma escalada nos casos de violência. Na madrugada de segunda-feira (3), três venezuelanos foram assassinados na região de Jamundí, estado colombiano de Valle del Cauca, segundo o Instituto de Desenvolvimento de Paz (Indepaz). No último ano, foram contabilizadas 96 chacinas, com 335 mortos, incluindo 169 líderes sociais assassinados no território colombiano.
Desde o estabelecimento dos Acordos de Paz de Havana, 1.284 defensores de direitos humanos, ex-guerrilheiros e líderes comunitários foram mortos na Colômbia.
📆 Fecha: 03/01/22
— INDEPAZ (@Indepaz) January 4, 2022
📍 Lugar: Jamundí, Valle del Cauca
👥 Nº de Víctimas: 3 personas
Es la primer masacre ocurrida en 2022 pic.twitter.com/dWWwmrNaak
No caso mais recente, a identidade das vítimas não foi divulgada. Apenas sabemos pelo Indepaz que se tratavam de pessoas que moravam na Colômbia há cinco anos e trabalhavam no setor de construção civil.
A Defensoria Pública local divulgou um comunicado afirmando que as mortes seriam uma retaliação de grupos armados irregulares que controlam a região contra o não cumprimento do toque de recolher estabelecido pelos próprios grupos armados por conta da pandemia.
Uma disputa na fronteira
Antes disso, no domingo, 2 de janeiro, um confronto armado no estado de Arauca terminou com 23 mortos e mais de 30 feridos - o que foi considerado por meios de comunicação locais como o dia mais violento nos últimos 10 anos no país. As autoridades colombianas afirmam que se trata de uma disputa de território entre dissidências das FARC e o Exército de Libertação Nacional (ELN).
A guerrilha emitiu comunicado assegurando que trata-se de uma articulação entre as dissidências junto ao governo colombiano e o Departamento de Fiscalização de Drogas dos EUA (DEA). "Tivemos que atuar para defender nosso território e o tecido social de uma nova ofensiva de um bloque da FARC agora comprometido com o plano do inimigo colombiano e estadunidense", afirmam.
Cerca de 2 mil pessoas foram desalojadas nos municípios de Tame, Fortul, Saravena e Arauquita, na região fronteiriça entre a Colômbia e a Venezuela.
"Expressamos profunda preocupação pelo aumento do conflito armado que coloca em risco iminente a população civil, incluído aqueles que possuem direito constitucional à proteção especial", publicou na segunda a Defensoria do Povo.
1/4 Expresamos profunda preocupación por la agudización del conflicto armado en el departamento de #Arauca, dada la confrontación entre grupos armados ilegales que ponen en riesgo inminente a la población civil (entre esos, a los sujetos de especial protección constitucional).
— Defensoría del Pueblo (@DefensoriaCol) January 3, 2022
Organizações de direitos humanos e moradores da região organizaram uma caminhada pela paz, exigindo que as autoridades prezem pela vida. "O povo não irá permitir que voltemos a tempos de dor e violência como em anos passados". Isso registraram em comunicado, no qual também pedem pela intervenção da Missão de Paz da ONU na região.
O ministro de Defesa, Diego Molano, anunciou a convocatória de um conselho de segurança na última segunda-feira (3) e o envio de mais 600 soldados para a região. Além disso, decidiu pelo aumento da oferta de recompensa para líderes dos grupos armados irregulares e, a longo prazo, a construção de novas bases militares.
Do outro lado da fronteira, o ministro da Defesa venezuelano, General Vladimir Padrino López, afirmou que a Força Armada Nacional Bolivariana (Fanb) está em estado de alerta diante da tensão presente na zona limítrofe entre os dois países.
Já em em abril de 2021, houve um conflito na fronteira entre o estados de Arauca, do lado colombiano, e Apure, no lado venezuelano, que durou quase 20 dias e deixou um saldo de 17 mortos, 39 feridos e mais de 3 mil desalojados.
Saiba mais: Por que a Colômbia se nega a conter o conflito armado na fronteira com a Venezuela?
Na época, o presidente Iván Duque também aprovou o envio de 1,3 mil soldados para Arauca. A região, que abriga uma base militar dos Estados Unidos, também recebeu quatro novas aeronaves C-17 há uma semana.
Tanto em abril quanto agora em janeiro, o governo colombiano insiste que a violência seria provocada pela disputa de rotas do narcotráfico que passam pela Venezuela. O chanceler venezuelano Félix Plasencia repudiou as declarações de Molano e Duque. Já o chefe da Superintendência Nacional Antidrogas (Sunad) da Venezuela, Richard López Vargas, reiterou que seu país não é uma rota de narcotráfico.
A Colômbia é considerada o maior produtor de cocaína do mundo, com cerca de 171 mil hectares cultivados, que abastecem aproximadamente 70% do mercado mundial, de acordo com relatórios das Nações Unidas. Já na Venezuela, a Sunad declarou ter apreendido oficialmente 51 toneladas de drogas ilícitas, cifra mais alta dos últimos 10 anos.
* Pauta atualizada às 13h45
Edição: Arturo Hartmann