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Assassinato de adolescentes imigrantes venezuelanos reacende tensão entre Colômbia e Venezuela

Caracas promete levar caso até a ONU e afirma existir "política de ódio e perseguição de altas autoridades"

Brasil de Fato | Caracas (Venezuela) |

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O Procurador-Geral da Venezuela, Tarek William Saab, se pronunciou sobre o episódio. - MP Venezuela

Novos casos de violência aumentaram as tensões entre Colômbia e Venezuela dias após a reabertura da fronteira terrestre entre os dois países, fechada desde 2019. No último fim de semana, dois adolescentes venezuelanos foram assassinados no município fronteiriço de Tibú, Norte de Santander, Colômbia. 

Os dois jovens, de 12 e 15 anos, foram acusados de furtar produtos em um armazém na cidade, foram detidos por civis e linchados publicamente. Vídeos publicados em redes sociais mostram os dois venezuelanos com as mãos amarradas, sendo insultados de "ladrões".

No mesmo vídeo é possível ouvir um colombiano dizer que entregaria os dois à Polícia para que "não aparecessem mortos pela via". 

Os autores do vídeo relataram em registro que circula pelas redes sociais que telefonaram mais de uma vez à Polícia, que nunca compareceu ao local. Sem a presença das autoridades, os adolescentes foram levados por dois homens armados numa moto e assassinados com disparos na cabeça, numa estrada que conecta Tibú ao município colombiano de El Tarra. 

O Ministério Público venezuelano exigiu às autoridades colombianas investigar o caso e garantir proteção aos imigrantes venezuelanos.

Segundo a ONG colombiana Consultoria de Direitos Humanos e Desalojados (Codhes), entre janeiro e agosto de 2021, 362 venezuelanos foram assassinados na Colômbia. Já nos últimos cinco anos a cifra total é de 1.933 venezuelanos mortos em território colombiano — a maioria dos casos permanece sem resolução.

Os estados mais violentos são Norte de Santander,  Valle del Cauca, Atlántico e Antioquia, de acordo com a ONG. O município de Tibú concentra cerca de 13% das plantações de coca da Colômbia, estimadas em 245 mil hectares em 2020.

"A taxa de homicídios da população venezuelana é 2,8 vezes maiores que do restante da população colombiana", declarou o Procurador-geral venezuelano Tarek William Saab. 

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O Ministério Público da Colômbia declarou que irá investigar o caso. O presidente colombiano Iván Duque acusou dissidências das FARC de serem responsáveis pelo crime, sem apresentar provas e ordenou a mudança de comando da Polícia estadual de Norte de Santander.

A Venezuela anunciou que levará o caso para a Organização das Nações Unidas (ONU) e também apresentará uma denúncia contra Duque na Corte Penal Internacional por perseguição e extermínio de migrantes. A vice-presidenta, Delcy Rodríguez, disse que os imigrantes venezuelanos são "vítimas da política de ódio e perseguição de altas autoridades".

Conselho de Segurança da ONU 

Além do caso recente de homicídio dos dois adolescentes venezuelanos, a Venezuela já havia apresentado outra denúncia contra o Estado colombiano na ONU.

O embaixador venezuelano Samuel Moncada enviou uma carta, no dia 8 de outubro, ao presidente do Conselho de Segurança da ONU denunciando um suposto plano de desestabilização militar preparado pela Colômbia e Estados Unidos. No documento, Moncada oferece uma linha do tempo com uma série de atentados e tentativas de golpe na Venezuela, que tiveram relação direta com personagens colombianos.

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Ainda afirma que houve uma incursão não autorizada de aeronave colombiana em setembro deste ano e outras 90 incursões de aviões estadunidenses no espaço aéreo venezuelano entre 2019 e 2021.

Edição: Thales Schmidt