A China acusou nesta terça-feira (28/12) os Estados Unidos de terem uma conduta irresponsável e insegura no espaço após dois satélites operados pela SpaceX, de Elon Musk, terem estado perigosamente próximos de colidirem com a nova estação espacial chinesa, a Tiangong.
"Os EUA ignoram suas obrigações sob os tratados internacionais, representando uma séria ameaça à vida e à segurança dos astronautas", disse o porta-voz do Ministério do Exterior da China, Zhao Lijian, em uma entrevista coletiva.
A Tiangong executou "manobras evasivas" para "prevenir uma potencial colisão" com os satélites Starlink, informou o governo chinês em uma queixa enviada ao Comitê da ONU para Usos Pacíficos do Espaço Exterior, em 6 de dezembro.
Os incidentes ocorreram em 1º de julho e em 21 de outubro.
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A Starlink, uma divisão da SpaceX, planeja lançar um total de cerca de 2 mil satélites na órbita terrestre, que visam fornecer acesso à internet inclusive em lugares remotos do planeta.
Em seu 34º e último lançamento, a SpaceX colocou 52 satélites em órbita, em 18 de dezembro.
Tratado do Espaço Exterior
A SpaceX é uma empresa privada americana, independente da agência espacial civil e militar, a Nasa.
No entanto, a China alega em sua nota à ONU que os membros do Tratado do Espaço Exterior, assinado em 1967 e que é a base da lei espacial internacional, também são responsáveis pelas ações de suas entidades não governamentais.
Dirigindo-se a repórteres, o porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Ned Price, se recusou a responder especificamente às acusações chinesas.
"Nós encorajamos todos os países com programas espaciais a serem atores responsáveis, para evitar atos que possam colocar em perigo astronautas, cosmonautas e outras pessoas que estão orbitando a Terra ou que têm potencial para isso", disse Price.
A SpaceX não se pronunciou sobre o fato.
Mais e mais objetos em órbita
Manobras evasivas para reduzir o risco de colisões no espaço estão se tornando mais frequentes à medida que mais objetos entram na órbita da Terra, disse Jonathan McDowell, do Harvard-Smithsonian Center for Astrophysics.
"Nós realmente notamos o aumento no número de passagens próximas desde que a Starlink começou a operar", disse ele à agência de notícias AFP.
Qualquer colisão provavelmente "demoliria completamente" a estação espacial chinesa e mataria todos a bordo, acrescentou McDowell.
Críticas a Musk
A reclamação de Pequim sobre a Starlink gerou críticas de usuários chineses ao bilionário fundador da SpaceX, Elon Musk, que é amplamente admirado na China.
Uma hashtag sobre o tópico na plataforma Weibo, semelhante ao Twitter, teve 90 milhões de visualizações na terça-feira.
"É irônico que chineses comprem [carros da] Tesla, contribuindo com grandes somas de dinheiro para que Musk possa lançar [satélites da] Starlink, e então ele (quase) colide com a estação espacial da China", comentou um usuário.
A Tesla, fabricante de carros elétricos de Musk, vende dezenas de milhares de veículos na China todos os meses, embora a reputação da empresa tenha sofrido muito este ano, após uma onda de acidentes, escândalos e preocupações com a segurança de dados.
"Prepare-se para boicotar a Tesla", disse outro usuário do Weibo, ecoando uma resposta comum na China a marcas estrangeiras que agem de forma contrária aos interesses nacionais.
O módulo central da estação chinesa de Tiangong - que significa "palácio celestial" - entrou em órbita no início deste ano e deve estar totalmente operacional em 2022.
Sua primeira tripulação retornou à Terra em setembro, após uma missão de 90 dias. A segunda tripulação, de dois homens e uma mulher, chegou à estação em 16 de outubro para uma missão de seis meses.