O governo Jair Bolsonaro (sem partido) tem utilizado, desde a última semana, o lançamento do satélite Amazônia I para fazer propaganda política. O presidente, seus filhos, o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação e até o Itamaraty se vangloriaram do evento nas redes sociais. No entanto, a atual gestão federal foi responsável pela desestruturação do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e é alvo frequente de críticas por cortes em pesquisa científica.
O projeto que resultou no lançamento do Amazônia I começou em 2008, durante o segundo mandato presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O primeiro satélite de observação da Terra totalmente projetado, integrado, testado e operado pelo Brasil, foi lançado à 1h54 de domingo (28) no Centro Espacial Satish Dhawan, na província de Andhra Pradesh, na Índia.
O Amazônia 1 foi desenvolvido pelo Inpe, em parceria com a Agência Espacial Brasileira (AEB) – órgãos ligados ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações. O projeto inicial era parte da Missão Amazônia, que foi criada para aprimorar o monitoramento da devastação da região e prevê outros dois satélites de sensoriamento remoto: Amazonia-1B e Amazonia-2.
Apesar de Bolsonaro
O desmonte do Inpe pela atual gestão começou ainda em 2019, quando imagens aéreas feitas pelo instituto demonstraram avanço da área desmatada na Amazônia.
O então diretor, Ricardo Galvão, foi demitido em agosto daquele ano, por reagir às acusações de Bolsonaro de que o Inpe estaria mentindo sobre o desmatamento da Amazônia.
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O cargo foi ocupado interinamente por Darcton Policarpo Damião. Desde outubro de 2020, quem ocupa o cargo é Clezio Marcos De Nardin.
Depois que Galvão deixou a direção do Inpe, começou um processo agressivo de corte nos investimentos em pesquisa. Em 2020, o orçamento do instituto caiu 17%, chegando a R$ 118,2 milhões, o menor desde 2006.
Esse desmonte culminou, em agosto de 2020, em uma decisão unilateral da AEB que propôs zerar o orçamento de pesquisa, desenvolvimento e capital humano do Inpe para 2021.
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Segundo o projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) do governo Bolsonaro, a agência propôs o repasse de R$ 32,7 milhões para o Inpe no ano que vem. O montante considerado suficiente pela instituição para manter o Programa Espacial Brasileiro é R$ 78 milhões.
Uma das consequências mais evidentes da desestruturação do instituto é o aumento da devastação na Amazônia Legal. Entre agosto de 2019 e julho de 2020, o desmatamento cresceu 9,5% na região, chegando a 11 mil km² destruídos no período.
O orçamento em ciência e tecnologia, como um todo, está ameaçado para 2021. Com um canetaço, em janeiro, Bolsonaro tirou até R$ 9 bilhões do setor, que corre risco de "apagão", segundo a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).
Edição: Rodrigo Chagas