A população de Honduras escolhe neste domingo (28) seu próximo presidente, 28 deputados ao Congresso Nacional, 298 prefeitos e 20 deputados ao Parlamento Centro-Americano. O pleito, todavia, tem sua legitimidade questionada por organizações de direitos humanos e pela oposição por conta de violações de direitos humanos e dúvidas sobre a lisura do processo.
Em 2017, o atual presidente Juan Orlando Hernández conseguiu sua reeleição. O resultado, contudo, é questionado pela oposição, que afirma ter ocorrido uma fraude. A Organização das Nações Unidas (ONU) emitiu nota criticando o "uso excessivo da força" contra manifestantes que tomaram as ruas em protesto contra o resultado do pleito. A repressão contra essas manifestações deixou ao menos 22 mortos.
Em 2009, o país atravessou outro episódio traumático quando o então presidente Manuel Zelaya foi afastado do poder por um golpe de Estado. O governo que substitui Zelaya foi prontamente reconhecido pelos Estados Unidos.
Após a saída de Zelaya, o país passou por processos de privatizações promovidos pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) em setores como água, energia, mineração e saúde.
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Honduras tem cerca de 9,5 milhões de habitantes e faz fronteira com Guatemala, El Salvador e Nicarágua. A agricultura é o setor mais importante da economia de Honduras, com destaque para o cultivo de café, banana e azeite de dendê.
De acordo com pesquisa da Universidade Nacional, 73% da população do país está abaixo da linha da pobreza, 52% da população está na pobreza extrema, 72% da população está na economia informal e o número de pessoas que migram para fora do país disparou.
Qual é o cenário das eleições?
O pleito tem 14 candidatos, mas os favoritos são Nasry Asfura, do governista Partido Nacional, e a oposicionista Xiomara Castro, do Partido Liberdade e Renovação.
Castro é esposa de Zelaya, o presidente afastado em 2009, e pode ser a primeira presidenta do país. Ela propõe reformular as leis de aborto do país para que a interrupção voluntária da gravidez seja possível em casos de estupro, inviabilidade do feto e risco de vida para a gestante.
A lei em Honduras não permite qualquer tipo de aborto.
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Castro também defende o estabelecimento de relações diplomáticas com a China. Hoje, Honduras faz parte de uma pequena lista de países que reconhece Taiwan como uma nação independente, medida contestada pela diplomacia de Pequim.
Já Asfura tem apostado no discurso anticomunista para atacar Castro. Cartazes foram espalhados pelo país afirmando que a candidata do Partido Liberdade e Renovação é comunista e anúncios na televisão a retratam ao lado do ex-presidente venezuelano Hugo Chávez.
Manifestações contrárias ao direito ao aborto e de ataque contra Castro também foram registradas.
A reversão do golpe
Gilberto Ríos, ativista e candidato do Partido Liberdade e Renovação, afirma que o golpe contra Zelaya em 2009 significou o fim da onda de governos progressistas na América Latina e que a farsa foi perpetuada por processos eleitorais fraudulentos em 2013 e 2017.
"Nosso problema não é ganhar da direita, mas ganhar da fraude", diz Ríos ao Peoples Dispatch.
Ismael Moreno, também conhecido como Padre Melo, é um jesuíta e diretor da Rádio Progreso. Para ele, há uma campanha de medo promovida pelo governo para tentar dissuadir as pessoas de participar do processo eleitoral.
"Acredito que cabe à sociedade hondurenha e às organizações sociais e populares não só ir votar, mas acompanhar a apuração nas seções eleitorais, falar sobre qualquer tipo de abuso, de irregularidade que possa estar relacionada a uma fraude", avalia Moreno.
* Com informações de Zoe Alexandra, do Peoples Dispatch
Edição: Arturo Hartmann