O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), deve anunciar a flexibilização do uso de máscaras no estado, em coletiva prevista para amanhã (17). De acordo com a secretaria paulista de Saúde, o abandono da obrigatoriedade seguirá um modelo escalonado. Inicialmente, espaços abertos e sem aglomeração, provavelmente a partir do primeiro dia de dezembro.
Em seguida, eventos de maior público em locais abertos e progressivamente, até abranger a totalidade dos espaços. A medida é criticada por cientistas que a avaliam como precipitada e sem base de dados suficiente.
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A medida, se confirmada, também contraria decisão preliminar da prefeitura da capital que, na última semana, anunciou manutenção das medidas não farmacológicas no enfrentamento à covid-19.
“Mantemos a utilização da máscara no município, devendo fazer as projeções com relação aos indicadores de uma nova versão para o início do mês de dezembro com os indicadores que seguramente a cidade poderá alcançar”, disse o secretário municipal de Saúde, Edson Aparecido.
Brincar com a vida
O epidemiologista da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Jesem Orellana afirma que ainda não é o momento adequado para o abandono das máscaras. Além da pandemia em pleno curso, há a proximidade de eventos que devem provocar grandes reuniões de pessoas.
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“Estamos às vésperas das conhecidas aglomerações de fim de ano e das férias de janeiro. Portanto, não soa sensato abrir mão deste importante recurso preventivo, em que pese o claro arrefecimento da epidemia e o avanço da vacinação no país. Seria como desafiar o vírus e brincar com a vida das pessoas”, disse à RBA.
Jesem também considera a escalada de casos e mortes em outros locais do mundo, como na Europa de forma mais acentuada.
“Retirar a obrigatoriedade do uso de máscaras em locais abertos acarreta riscos óbvios e pode contribuir para o relaxamento do seu uso em locais fechados. Não podemos ignorar que a epidemia está em clara retomada de contágios em diversos países da Europa, especialmente naqueles com altas coberturas vacinais (e que por isso relaxaram a segurança) contra a covid-19”.
Ambientes e máscaras
Na última semana, o secretário de Saúde do estado, Jean Gorinchteyn, disse que o governo “avalia os dados de melhora de queda progressiva e continuada no número de internações, casos e mortes. Bem como a vacinação satisfatória. O desejo do comitê científico que faz análise junto do governador é que tenhamos 75% da população geral vacinada. Na próxima semana vamos estipular o bom momento de isso acontecer (…) Primeiro, retiramos assim que possível ambientes externos sem aglomeração. Para então ambientes externos com aglomeração, como ruas de comércio. A seguir, serão avaliadas condições pontuais como ambientes fechados sem aglomeração e ambientes fechados com aglomeração. Na lanterninha estará o transporte público que merece um cuidado maior”, disse.
Instabilidade
O governo João Doria adotou algumas metas para dar início à liberação da obrigatoriedade das máscaras no estado. Além de 75% da população geral vacinada, média móvel diária de casos inferior a 1.100, internações abaixo de 300 por dia e mortes abaixo de 50. Entretanto, de acordo com o instituto de análises de dados conjunto da USP e Unifesp, Info Tracker, aponta que há dois meses não é possível saber com precisão os dados da pandemia no país. Isso, porque existem instabilidades no sistema de notificações do SUS.
O professor, pesquisador da USP São Carlos e responsável pelo Info Tracker, Wallace Casaca, explica que a plataforma utiliza uma inteligência avançada para identificar a realidade da pandemia. “Tentamos coletar diversos tipos de dados, não só aqueles usualmente disponibilizados pela imprensa. Temos acesso ao número de casos descartados, suspeitos e outros dados, como a frequência com que as prefeituras atualizam seus boletins. Com isso, podemos tecer varias perspectivas”.
A plataforma, que é chancelada pelo Conselho Nacional dos Secretários de Saúde (Conass), identificou nas últimas semanas um aumento de casos suspeitos de covid-19 na Grande São Paulo.