Pandemia

Falta de acesso à vacina e à máscara: Caximba é recordista de casos de covid em Curitiba (PR)

Bairro tem 3.095 casos para cada 10 mil habitantes, a maior taxa de contágio em Curitiba

Brasil de Fato | Curitiba (PR) |
Para tomar a segunda dose da vacina, "tem que ir de carro ou ter dinheiro, e não temos", conta moradora - Giorgia Prates/ONU

Localizada na região sul de Curitiba, o bairro da Caximba é o lugar com a maior taxa de incidência e casos de covid-19 na capital. Segundo números do portal Bem Paraná, foram 3.095 casos para cada 10 mil habitantes, até outubro deste ano. Como comparação, o Água Verde, bairro central e de alta renda, teve média de 999 casos a cada 10 mil, um terço do registrado na Caximba.

Entre as explicações para a diferença nesses números estão o difícil acesso à água limpa, falta de distribuição de máscaras para a população de baixa renda e a dificuldade para que moradores possam se deslocar até os postos de vacinação contra o coronavírus na capital.

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De acordo com o relatório socioeconômico da Caximba, elaborado pela ONG Teto, em 2019, 89% da população do bairro tinham acesso a água de maneira irregular. O estudo ainda aponta que dois terços dos habitantes recebem na faixa de 500 a 1.497 reais mensais.

Moradores e líderes comunitários ouvidos pela reportagem do Brasil de Fato Paraná relatam que, durante a pandemia, até mesmo um simples banho foi um desafio, e mesmo com quase 70% da população completamente vacinada em Curitiba, ainda há pessoas que não tomaram sequer a primeira dose no bairro.

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Pastor Jorge Nunes, presidente da Associação de Moradores Amigos do Bairro da Caximba, relata que durante a pandemia não houve distribuição de máscaras para as comunidades, que têm dificuldade em adquiri-las. “Não vi nenhuma máscara doada pelo posto ou pelo Cras [Centro de Referência da Assistência Social], apenas a escola Joana Raksa distribuiu. Aqui são poucas pessoas que usam, apenas as crianças, porque estão sendo instruídas pelos professores”, conta.

Lucília Almeida de Sousa, manicure, moradora do bairro, relata que falta dinheiro para as máscaras. “Hoje tive que dar pão com óleo para meu filho porque não tinha dinheiro para comprar margarina”, relata Lucília, que é baiana e veio morar em Curitiba depois de um tempo em São Paulo. Ela teve covid-19, assim como os cinco familiares com que mora, e conta que teve sequelas da doença e que ainda não conseguiu se vacinar. “Meu marido está para tomar a segunda dose, só que tem que ir ao Tatuquara, e para ir tem que ir de carro ou ter dinheiro, e não temos”, diz.

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Além da dificuldade para os moradores se deslocarem até os postos de vacinação, o pastor Jorge conta que a falta de orientação da prefeitura também dificulta. “Sinto que muitas pessoas não foram tomar por falta de informação, nem todo mundo aqui consegue acompanhar pelos meios da prefeitura as orientações para tomar a vacina.”

Se a dificuldade de vacinar e o uso de máscaras têm sido um problema, a falta de saneamento básico e acesso à água tratada o tornam ainda pior. “Sem água, estamos todos os dias. Vem água um dia, e depois fica dois, três dias sem. Aqui usamos um tambor, mas, como somos em cinco, acaba não dando conta de ter água para todo mundo”, diz Lucília.

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A reportagem do Brasil de Fato Paraná entrou em contato com a prefeitura de Curitiba, via Secretaria de Comunicação Social, questionando sobre políticas de segurança sanitária na região e em relação aos números de vacinados. Até o fechamento desta matéria, não houve resposta.

Fonte: BdF Paraná

Edição: Frédi Vasconcelos e Lia Bianchini