Contra arrocho

Jornalistas fazem ato na Globo e se preparam para paralisação por reajuste salarial

Reivindicando reajuste de 8,9% de acordo com a inflação, categoria em São Paulo cruzará os braços por 2h na quarta (10)

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Em frente à sede da Globo em São Paulo, jornalistas reafirmam demanda por reajuste de acordo com a inflação para toda a categoria - Eduardo Viné - SJSP

Cerca de 250 jornalistas de jornais e revistas da capital paulista participaram de nova assembleia nessa terça-feira (9) e deliberaram por não aceitar a mais recente proposta patronal e manter a paralisação marcada para ocorrer das 16h às 18h da quarta-feira (10). As negociações já duram cinco meses.  

Os trabalhadores reivindicam um reajuste de 5% retroativo, contando a partir de junho de 2021, e outro de 3,72% a partir deste mês de novembro. A proposta inclui a manutenção da multa da PLR (Participação nos Lucros ou Resultados) e um reajuste de 8,9%, porcentagem que acompanha o INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) registrado no período de junho de 2020 a maio de 2021.  

Proposta patronal 

Não foi bem isso que as empresas de comunicação ofereceram. A última Convenção Coletiva de Jornais e Revistas da Capital aconteceu nessa segunda-feira (8). Na negociação o sindicato patronal propôs a inclusão da multa da PLR e reajustes diferentes para três faixas salariais.  

Para salários de até R$ 5 mil, o reajuste seria de 8,9%, como demandado pela categoria. Para remunerações entre R$ 6 e R$ 7 mil, o reajuste – parcelado em duas vezes – seria de 6%. No caso de salários superiores a R$ 7 mil, o reajuste fixo seria de R$ 420.  

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“Há um avanço na proposta, mas ainda estamos longe de chegar aos 8,9% para a maior parte dos salários. Além disso, a primeira faixa de salários de até R$ 5 mil, na verdade, fica abaixo do piso de 7 horas, que é em torno de R$ 5.400”, aponta Thiago Tanji, presidente do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo (SJSP) e trabalhador da Editora Globo. 

A proposta patronal foi rechaçada em assembleia da categoria.  

Paralisação histórica 

Como parte da campanha salarial, houve um ato na tarde dessa terça (9) em São Paulo (SP), em frente à sede da Globo, da editora Globo Condé Nast, das redações do Valor Econômico e da sucursal de O Globo

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Para Tanji, são “cinco meses de negociação e intransigência dos patrões”.  O presidente do SJSP explica que, mesmo com a inflação de 8,9%, “primeiro quiseram dar 0% [de reajuste] depois 4,45%, depois 5% e agora começam a avançar lentamente”. 

“A gente quer reajuste da inflação para todos os salários. E queremos esse reajuste o mais rápido possível, porque cada dia que passa é mais um dia de aluguel, alimento, combustível”, expõe Thiago Tanji, para quem anualmente a precarização das condições de trabalho está avançando. 

De acordo com o SJSP, a última vez que jornalistas da capital paulista organizaram uma paralisação entre várias redações foi em 1979, em plena ditadura militar.


Em São Paulo, as greves históricas de jornalistas aconteceram em 1961, conquistando o primeiro piso salarial, e em 1979, sob o regime militar / Arquivo - SJSP

Depois dessa, houve greves pontuais em alguns veículos, tais como na EBC em 2015 e 2017, Rede TV em 2019, no Destak em 2020 e Correio Popular em 2021. 

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Para a paralisação de quarta-feira (10) que, em São Paulo e atravessando diferentes veículos de comunicação, é a primeira da categoria no século, já confirmaram que cruzarão os braços trabalhadores de redações como da Folha de S. Paulo, da Editora Globo, do Valor Econômico e da Editora Abril

Edição: Leandro Melito