Nossa inflação está ligada ao preço do dólar: quando ele aumenta, os preços aumentam
Que a inflação tem afetado os bolsos dos brasileiros ninguém duvida. Mas o que causa essa variação nos preços e por que o Brasil é tão suscetível a ela? Para responder a essas perguntas, a edição de hoje (9) do Programa Bem Viver ouviu o economista Leonardo Leite, que é professor na Universidade Federal Fluminense e ficou famoso nas redes sociais por trazer explicações sobre a economia a partir da política global, com linguagem clara e acessível.
Segundo o especialista, os preços dos produtos vendidos no Brasil não são resultado apenas de decisões internas do país, mas também de políticas adotadas por grandes potências, como um desdobramento do imperialismo na economia.
“A inflação não é só um fenômeno monetário. Em um país como o Brasil, inserido de forma subordinada na economia mundial, a gente tem um histórico de inflação que não é recente. Tem uma causa para que a inflação média nos países periféricos seja maior que nos desenvolvidos. É um componente estrutural”, disse. “Nossa inflação está ligada ao preço do dólar: quando ele aumenta, os preços aumentam. Nos países emergentes, a aceleração da inflação esta atrelada à desvalorização da moeda, o que encarece o que importamos.”
Para se ter uma ideia prática dos impactos dessa variação na economia, um levantamento divulgado ontem (8) pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudo Socioeconômicos (Dieese) aponta que a cesta básica já se aproxima dos R$ 700 em algumas regiões do país, como Florianópolis, capital com a cesta mais cara do Brasil, e São Paulo, com valor de R$ 693. Em um ano, o preço da cesta básica subiu em todas as capitais analisadas, com destaque para o Distrito Federal, que teve a maior alta dos últimos 12 meses, calculada em 31%.
“Quando a gente analisa a conjuntura econômica, alguns eventos são estruturais, como o imperialismo. Nossa inserção na economia mundial é de transferir valores para o resto do mundo por vários caminhos, um deles é que boa parte das empresas transnacionais que atuam no Brasil remetem lucros para as matrizes no exterior, em uma transferência de riqueza produzida aqui. Essa transferência gera uma pressão, uma escassez de dólares, o que aumenta o preço dele dentro do país”, pontua.
Marighella
No último final de semana ocorreu o evento de lançamento do filme “Marighella”, de Wagner Moura, no assentamento Jacy Rocha, ligado ao Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), no sul da Bahia. Quase mil pessoas acompanharam o diretor e os artistas na exibição do filme.
O assentamento não foi escolhido como palco do evento à toa: o local é um símbolo de resistência do MST, já que acampamentos vizinhos foram alvos de ataques por grupos violentos. O mais recente aconteceu há menos de 10 dias, quando pelo menos 20 pessoas encapuzadas invadiram o assentamento Fábio Henrique, destruíram casas e puseram fogo em instalações.
Foi nesse contexto que um evento recheado de esperança chegou ao assentamento vizinho. Estiveram presentes a presidenta do PT, Gleisi Hoffmann, o membro da diretoria nacional do MST, João Paulo Rodrigues, a neta do guerrilheiro Carlos Marighella, Maria Marighella, entre outras personalidades.
Enem
Ontem (8), a quase duas semanas da realização do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), 29 profissionais que atuavam na organização da prova pediram demissão da autarquia responsável, o Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).
Os servidores denunciam "fragilidade técnica e administrativa" no comando do órgão e clima de insegurança e medo no cotidiano. Segundo a associação dos servidores do Inep, a gestão atual negligência problemas estruturais, pratica assédio moral, promove desmonte nas diretorias, sobrecarrega trabalhadores e desconsidera aspectos técnicos nas decisões.
A diretoria de gestão e planejamento, área que mais sofreu baixas, é responsável justamente pela organização logística da prova. Entre os servidores que se desligaram estão alguns dos profissionais mais experientes de setores estratégicos para realização do Enem.
O exame está marcado para 21 e 28 de novembro. Nem o Inep nem o Ministério da Educação (MEC) se pronunciaram sobre o caso.
Arpilleiras
A edição de hoje do Bem Viver convida os ouvintes a conhecer um coletivo que une arte com luta social: uma iniciativa do Movimento dos Atingidos por Barragem (MAB) organizou mais de mil mulheres de diferentes regiões do Brasil para denunciar violências contra a população do campo por meio do bordado.
São as Arpilleras. O nome é inspirado em um movimento chileno que surgiu durante a ditadura militar no país em que as manifestantes usavam panos velhos para registrar os abusos do governo e os nomes dos desaparecidos políticos.
No Brasil, a manifestação é semelhante, mas não é focada apenas um episódio específico da história do país. As mulheres do coletivo usam a arte para criticar abusos cometidos por grandes grupos da mineração, agronegócio e outros setores que ameaçam a existência de comunidades rurais no Brasil.
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Edição: Sarah Fernandes