As mulheres avançavam, entoavam canções, algumas carregavam vegetais e ramos de flores, outras seguravam bandeiras. As ruas de Zárate, na província de Buenos Aires, perderam sua calma habitual de uma manhã de segunda-feira quando as trabalhadoras da terra, camponesas e produtoras rurais fizeram o que o cansaço e a raiva já lhes demandava: uma ação direta — um escracho — em frente à fábrica de sementes geneticamente modificadas da Bayer-Monsanto. "Queríamos apontar os responsáveis pelo combo tecnológico de morte e destruição", expressaram.
Em ocasião do Encontro Nacional de Mulheres da União de Trabalhadores da Terra (UTT) e coincidindo com um acampamento em frente ao Congresso da Nação Argentina nesta segunda-feira (25), as mulheres do campo, trabalhadoras e produtoras, manifestaram-se em frente à fábrica da gigante transnacional como forma de reivindicar a Lei de Acesso à Terra e à Soberania Alimentar.
"Queríamos apontar os responsáveis por esse combo tecnológico de morte e destruição. Somos as que mais sofrem, vemos o quanto isso atinge a nossa vida causando abortos, câncer, adoecendo nossas famílias, somos as primeiras a dizer aos nossos filhos e filhas 'não comam esse morango porque está mal curado com veneno'", disse ao jornal Tiempo Argentino Rosa Pellegrini, coordenadora nacional da Secretaria de Gênero da UTT.
"Além de nos envenenar, envenenar os solos e territórios, nos impõem o combo tecnológico como única alternativa para a produção de alimentos. Nos escravizam porque nos forçam a pagar por esse combo a preço de dólar. Empresas transnacionais como a Bayer-Monsanto vêm ao nosso país e produzem venenos cancerígenos para nosso povo", enfatizou Pellegrini.
AHORA en la entrada de la planta de #BayerMonsanto en Zarate dando inicio a las jornadas por el reclamo de tratamiento de la #LeyDeAccesoALaTierraYA #SoberaníaAlimentaria pic.twitter.com/xaj5HnIxzB
— Unión de Trabajadorxs de la Tierra (@uttnacional) October 25, 2021
Através de um comunicado, a UTT destacou que "enquanto uma boa parte da nossa população tem sua nutrição adequada comprometida e outra boa parte deve gastar quase todo o salário em alimentos, um punhado de corporações monopolistas concentram 80% das marcas das gôndolas e têm rentabilidades que ultrapassam bilhões de pesos anuais cada uma. Esse modelo agroalimentar não dá mais".
"As mulheres — continua o texto — são as primeiras a visibilizar que o combo de agrotóxicos imposto por essas empresas não nutre nem alimenta. Ao contrário, mata e envenena, desencadeando efeitos negativos na saúde e na terra, causando clareiras, poluição, doenças, malformações, abortos espontâneos, problemas neurológicos. Esses males são sofridos por nossos filhos e filhas".
AHORA EN VIVO ROSALÍA PELLEGRINI JUNTO A MUJERES DE LA UTT EN LA PUERTA DE BAYER MONSANTO EN ZARATE, EN UN CIERRE DE SU SEGUNDO ENCUENTRO Y ABRIENDO LA JORNADA DE LUCHA POR LA #LeyDeAccesoALaTierraYa @VHMok @AM750 pic.twitter.com/VXmdRdNie5
— Unión de Trabajadorxs de la Tierra (@uttnacional) October 25, 2021
"Exigimos – completa Pellegrini – o fim da violência dessas empresas contra nós. Estamos cansadas de sustentar um modelo produtivo sem acesso à terra e que prejudica a saúde. Somos nós que temos que apostar na agroecologia, mesmo que seja contra nossos maridos que estão submetidos ao combo tecnológico, mas o Estado não cuida de nós".