O empresário bolsonarista Luciano Hang, dono das lojas Havan, fala hoje à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid. Mas quais são os motivos que o levaram a ficar na mira dos senadores?
Promoção do tratamento precoce
As investigações acerca da operadora de saúde Prevent Senior levantaram indícios de que Luciano Hang levou a defesa do tratamento precoce muito a sério. Quando a sua mãe, Regina Hang, contraiu o novo coronavírus e depois veio a óbito, o empresário publicou um vídeo nas redes sociais afirmando que nunca deu nenhum desses remédios para a mãe e se questionando: “será que se eu tivesse feito o tratamento preventivo, eu não teria salvado a minha mãe?".
#CPIdaCovid | Siga o fio e veja alguns dos motivos que respaldaram a convocação de Luciano Hang, dono da rede de lojas Havan, para depor na Comissão de Inquérito da Pandemia. ⤵️🧶 pic.twitter.com/4DmUTV8ihm
— Brasil de Fato (@brasildefato) September 29, 2021
Depois, a partir de um dossiê elaborado por 15 médicos que trabalharam na Prevent Senior entregue à CPI da Covid, descobriu-se que a declaração de óbito da mãe do bolsonarista foi fraudada.
:: Mãe de Luciano Hang morre aos 82 anos em SP após contrair coronavírus ::
Além de não constar covid-19 como a causa da morte, "o prontuário médico da sra. Regina Hang prova que ela utilizou o kit antes de ser internada e que repetiu o tratamento durante a internação, assim como registram que seu filho, Sr. Luciano Hang, tinha ciência dos fatos".
A mãe do bolsonarista, conforme consta no dossiê, foi internada em 31 de dezembro e morreu em 3 de fevereiro. Nesse período, Hang recebeu medicamentos do tratamento precoce, como hidroxicloroquina, azitromicina, colchicina e ivermectina.
:: Luciano Hang fazia “tratamento precoce” com cloroquina antes de contrair coronavírus ::
"Como outros tantos casos de óbitos na rede Prevent Senior decorrentes da covid-19 que não foram devidamente informadas às autoridades, a declaração de óbito da sra. Regina Hang foi fraudada ao omitir o real motivo do falecimento", diz o documento.
Gabinete paralelo e fake news
Pela defesa do tratamento precoce e a proximidade com o governo federal, os senadores acreditam que Luciano Hang também faz parte do chamado gabinete paralelo. O grupo seria formado por figuras de fora do governo federal que aconselhariam o presidente acerca do uso de medicamentos comprovadamente ineficazes pela ciência contra a covid-19, como hidroxicloroquina e cloroquina.
Como o grupo também é investigado por disseminar notícias falsas, uma vez que faziam a defesa de medicamentos sem nenhuma eficácia comprovada, Hang também é investigado por ser um dos disseminadores.
Segundo documentos da CPI, divulgados por uma reportagem da TV Globo, Luciano Hang financiou o blogueiro bolsonarista Allan dos Santos, que é investigado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por divulgação e realização de atos antidemocráticos e propagação de notícias falsas. Ainda segundo a comissão, a ponte entre ambos foi intermediada pelo filho do presidente Bolsonaro, Eduardo.
:: Por fake news, STF tira do ar perfis bolsonaristas no Twitter ::
Confira o diálogo entre Eduardo Bolsonaro e Allan dos Santos sobre Luciano Hang:
Allan: “Preciso que você me coloque em contato com o Luciano Hang”.
Eduardo: Envia o contato telefônico de Luciano Hang e pergunta: “Quer que eu fale algo a ele para te introduzir?”.
Allan: “É melhor”.
Eduardo: “Mandei mensagem para o Hang. Assim que ele me responder te passo”.
Eduardo: “Ele disse que você pode entrar em contato com ele. Falei que você é o nosso cara da imprensa para um projeto que desenvolvemos aqui nesta semana de aulas com o Olavo [de Carvalho]”.
Allan: “Sobre o Hang, quando ele voltar da Europa, falarei com ele”.
Eduardo: “Beleza. Falei no macro com o Hang”.
Depois de quatro meses da troca de mensagens, dos Santos confirmou a participação de Hang como um dos patrocinadores de um programa.
Camarote da vacina
Luciano Hang e Carlos Wizard, também suspeito de integrar o gabinete paralelo, deram força ao projeto de lei 948/2021, de autoria do deputado Hildo Rocha (MDB-MA), que prevê a aquisição de imunizantes contra a covid-19 pela iniciativa privada sem repasse ao Sistema Único de Saúde (SUS) e dispensava o aval da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para a importação privada. A proposta ainda está em tramitação na Câmara dos Deputados.
Esses aspectos da proposta ganharam força após encontro dos empresários com o ministro da Economia, Paulo Guedes. Na ocasião, eles destacaram a intenção de garantir a imunização para os trabalhadores das empresas e seus familiares.
Os empresários também tiveram uma reunião informal com o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, para tratar da proposta de “furar a fila” do Plano Nacional de Imunização. O encontro ocorreu na mesma semana em que o próprio ministro reduziu pela metade a previsão de entrega dos imunizantes em abril.
Edição: Vivian Virissimo