As vendas de macarrão instantâneo no Brasil têm aumentado tanto que a indústria de massas alimentícias estima que o faturamento do setor deverá subir entre 5% e 10% neste ano, impulsionado especialmente por esse tipo de produto.
Em 2020, o segmento também cresceu impulsionado pela massa de origem japonesa e teve faturamento de mais de R$ 3 bilhões. Mais barata, ela tem se tornado opção frente à inflação no preço dos alimentos.
Os dados que confirmam a alta do consumo são da Associação Brasileira das Indústrias de Biscoitos, Massas Alimentícias e Pães e Bolos Industrializados (Abimapi). A entidade representa fabricantes de todo o país.
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Este não é o primeiro sinal de que a dieta dos brasileiros está mudando por causa dos preços dos alimentos. A consultoria Kantar divulgou recentemente que há um aumento também no consumo de outros ultraprocessados, como salsichas e pães industrializados.
A professora do Departamento de Nutrição da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Milene Pessoa aponta que o cenário é um sinal de agravamento da insegurança alimentar no Brasil.
"Muitas vezes o consumo de alimentos ultraprocessados vem como uma violação a um direito humano básico, que é o direito a uma alimentação adequada. Muitas famílias estão adquirindo esse produto porque é o que o dinheiro dá para comprar", alerta.
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A nutricionista propõe uma reflexão, "É importante a gente lembrar que os preços dos alimentos in natura e minimamente processados têm aumentado muito, mas a gente não observa isso tanto nos alimentos utraprocessados. Isso acaba estimulando o consumo desses últimos".
Comida para tempos de crise
A própria história do macarrão instantâneo remete a crises econômicas e humanitárias. Ele foi criado no Japão, após a Segunda Guerra Mundial. O inventor da massa, Momofuku Ando, diz em sua biografia que teve a ideia do produto após ver uma fila de pessoas famintas aguardando por um prato sopa.
Popularizado em países orientais, o "lamem mágico", como era chamado, percorreu o mundo nas décadas seguintes e já foi usado até como comida de astronauta. Ficou conhecido como comida prática, mas não tem potencial para substituir uma dieta equilibrada e diversa.
Milene Pessoa ressalta que as consequências nutricionais do consumo excessivo desses alimentos ultraprocessados são preocupantes, "É muito grave a gente pensar que a pessoa consome esse tipo de produto por falta de escolha, por falta de oportunidade, por falta de acesso a um alimento mais saudável".
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Segundo ela, "do ponto de vista nutricional, isso pode trazer para a população o que a gente chama de dupla carga de má nutrição, quando coexistem excesso de peso, sobrepeso, obesidade e também carência nutricional".
Essas carências nutricionais podem trazer malefícios até mesmo no desenvolvimento cognitivo e no aprendizado. Além disso, estão associadas a doenças crônicas, como pressão alta, diabetes e câncer.
"É um problema para o indivíduo, mas é um problema de saúde pública também. A gente tem várias consequências. É preciso pensar em ações que possam resolver o problema em curto, médio e longo prazo e que sejam soluções sustentáveis", finaliza Milene.
Edição: Vinícius Segalla