Segundo pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgada este ano, é possível perceber que os ultraprocessados estão ganhando espaço na mesa dos brasileiros e chegaram a 18,4% das calorias totais da aquisição de alimentos. No ano de 2002, a porcentagem era de 12,6%. São exemplos de alimentos ultraprocessados os embutidos, biscoitos, sorvetes, molhos, salgadinhos, refrigerantes e produtos congelados e prontos para aquecimento.
Para Sonia Lucena de Andrade, nutricionista e professora aposentada da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), alimentos ultraprocessados apresentam um grande risco à população. "Os alimentos ultraprocessados deveriam participar de outra classificação, serem chamados de ‘produtos’ e não de alimentos".
Sonia explica que esses produtos apresentam em sua constituição componentes como conservantes, edulcorantes ou intensificadores de cor. "As pesquisas mostram que o consumo desses produtos estão sempre relacionados a doenças que acometem muito a população atualmente, como obesidade, hipertensão, câncer de mama, doenças intestinais crônicas e depressão”, acrescenta a nutricionista.
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Atualmente, o Brasil conta com o Guia Alimentar para a População Brasileira como instrumento para orientar a população a ter uma alimentação saudável. O médico Flávio Valente, mestre em Saúde Pública (Harvard School of Public Health) e pesquisador no Departamento de Nutrição da UFPE, explica que o guia é um dos melhores do mundo no momento e serve como modelo para maior parte dos países.
Ainda assim, o Ministério da Agricultura pediu a revisão do guia. "Fica claro quem tem interesse em fazer isso. Primeiro, a indústria alimentícia, uma das indústrias mais poderosas do mundo e também uma das principais responsáveis pelo caos alimentar que estamos vivendo no país. E ao mesmo tempo, o agronegócio, que produz alimento para essa indústria”, afirma.
Uma saída possível é consumir produtos com o mínimo de conservantes e feitos com matérias primas de qualidade. É por isso que Jô Ribeiro, técnica em agropecuária e proprietária do Armazém da Jô, decidiu vender produtos orgânicos. "Eu defendo a agricultura familiar, a linha de orgânicos e alimentação saudável. Um produto sem conservantes, sem transgenia, sem agrotóxico, agroecológica, saudável, e além de tudo isso, eu estou ajudando a fortalecer grupos que estão numa luta constante para ganhar espaço".
Ela afirma, porém, que um dos desafios é o apoio e incentivo para que seja possível baixar os preços dos produtos e, assim, mais pessoas possam ter acesso a alimentos oriundos da agricultura familiar e com o mínimo de processamento.
Em um olhar mais amplo, a solução, segundo Flávio, é a mudança do modelo alimentar, o fim do agronegócio como se conhece hoje e a volta da produção diversificada, de pequena escala e seguindo os princípios da agroecologia: "Essa é uma solução que resolve não só o problema da alimentação, como também o problema ambiental".
Fonte: BdF Pernambuco
Edição: Vanessa Gonzaga