Disposto a colaborar

Galo comparece à polícia para explicar os motivos do incêndio da estátua de Borba Gato

Paulo “Galo” foi um dos autores do incêndio da estátua de Borba Gato no último sábado; ele se apresenta hoje à polícia

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
A defesa também afirmou que Galo está ciente da possibilidade de ser detido no DP, mas ainda assim irá se apresentar - Zé Bernardes

O paulistano e entregador de aplicativo Paulo Roberto da Silva Lima, conhecido "Galo", irá se apresentar voluntariamente, às 12h desta quarta-feira (28), ao 11º Distrito Policial de Santo Amaro. 

O órgão investiga os supostos envolvidos no incêndio da estátua de Borba Gato, no último sábado (24), na zona sul de São Paulo. O coletivo “Revolução Periférica” já assumiu a autoria do incêndio. 

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A defesa de Lima afirmou que ele reconhece sua participação no ato e que está disposto a colaborar com as investigações. 

A decisão de se apresentar à polícia veio após a defesa localizar um pedido de prisão temporária em andamento contra Galo e depois da prisão em flagrante de Thiago Vieira Zem, que teria sido o responsável por dirigir o caminhão utilizado para levar as pessoas e os pneus até o local da manifestação. Zem já foi liberado.

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“Ele se apresentará ao Distrito Policial. Ele assume a autoria de que foi um dos responsáveis por atear fogo na estátua. Ele vai até lá, vai contar as suas ações e seus motivos”, afirmou Jacob Filho, advogado de Galo.

A defesa também afirmou que Galo está ciente da possibilidade de ser detido no DP, mas ainda assim irá se apresentar. “Ele vai às cegas, sem saber se pode ser preso ou não”, afirmou Jacob.

A possível prisão também já vem sendo contestada pela defesa: “Um crime em que não houve violência contra a pessoa. Então não consigo entender quais são os motivos jurídicos para ele estar preso. Não se prende pessoas por pensarem, fazerem aquilo que elas acreditam.”

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No documento enviado ao DP para o agendamento da apresentação de Galo, a defesa também solicita o acesso ao inquérito. “A defesa desconhece os autos da investigação em curso e, ainda, eventuais autos apartados que contenham o mencionado pedido de prisão do peticionário. (...) Desde já, pois, requer que seja deferido o acesso ao inquérito policial principal e, ainda, aos autos de eventuais medidas cautelares decretadas, para que o peticionário e a defesa tenham ciência de todas as provas documentadas”, afirma a defesa na petição.

Manuel Borba Gato

O incêndio da estátua de Borba Gato faz parte de um movimento de ações que defendem a derrubada de monumentos que exaltam personagens da escravização de povos afrodescendentes e indígenas. No caso de Manuel de Borba Gato, ele fez fortuna, na segunda metade do século 18, ao caçar indígenas pelo sertões do país para escravizar.

Ainda em setembro de 2016, a estátua amanheceu manchada de tinta, num repúdio a sua figura, assim como o Monumento às Bandeiras, na Praça Armando Salles de Oliveira, no Ibirapuera. 

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Estátuas pelo mundo

Em outros lugares do mundo, o movimento é o mesmo. Em Richmond, na Virgínia, nos Estados Unidos, uma estátua de Cristóvão Colombo, apontado na história como o primeiro conquistador europeu a chegar à América, foi derrubada, incendiada e jogada em um lago. 

Na mesma cidade, a estátua de Jefferson Davis, militar americano que defendia a manutenção da escravidão nos EUA, também foi derrubada. Da mesma maneira, em Bristol, na Inglaterra, uma estátua de ​Edward Colston, traficante de escravos e membro do Parlamento britânico no século 17, foi derrubada e jogada em um rio.

Edição: Rebeca Cavalcante