Reparação histórica

Afro-argentina María Remedios del Valle será 1ª mulher homenageada na Câmara do país

Reconhecida como "Mãe da Pátria", del Valle lutou na guerra da independência argentina, mas morreu na pobreza

Brasil de Fato | Buenos Aires (Argentina) |
María Remedios del Valle lutou na guerra da independência argentina e foi nomeada "Mãe da Pátria" - Divulgação

Um importante reconhecimento histórico acontecerá, na tarde desta terça-feira (6), na Câmara dos Deputados da Nação na Argentina. A capitã negra María Remedios del Valle, importante figura para a comunidade afrodescendente no país, será a primeira mulher a ser representada nos quadros instalados nas paredes do edifício.

Acompanhe a homenagem aqui:

 

Em um país onde a discussão sobre o racismo ainda é fortemente estancada, a homenagem faz-se duplamente importante. A ação marca o início do projeto intitulado "Agora que sim nos vejam", que busca dar visibilidade à história das mulheres e pessoas LGBTIQ+, uma vez que, até então, todos os quadros da Câmara representam masculinidades hegemônicas. A frase que dá nome ao projeto é uma referência ao mote feminista "agora que sim nos veem", impulsionado principalmente pelo feminismo branco no país.

::Com nova categoria "negro(a)", censo argentino será realizado após fim da pandemia::

Nascida na cidade de Buenos Aires entre os anos 1766 e 1767, a afro-argentina María Remedios del Valle lutou como soldado na guerra da independência do país e foi considerada uma grande heroína por seus companheiros de campo de batalha.

Foi reconhecida como Capitã do Exército pelo coronel Manuel Belgrano e nomeada como "Mãe da Pátria", título inegavelmente atribuído a Remedios del Valle – ao contrário do "Pai da Pátria", discutido historicamente se seria atribuído a Belgrano ou ao coronel José de San Martín.

Conforme relata o escritor e historiador saltenho, Carlos Ibarguren, após o fim da guerra, María Remedios del Valle foi uma "heroína esquecida", como muitos outros soldados, viveu seus últimos anos pedindo esmolas e comendo as sobras de comidas nos conventos. Nunca outorgaram a pensão que correspondia por sua carreira no exército e a perda de seu esposo e filhos.

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"É um ato simbólico, mas não por isso menos importante", afirma Miriam Gomes, integrante da comunidade caboverdeana na Argentina. "É um salão que foi coberto por retratos de homens. Estamos muito felizes com este passo e esperamos conseguir mais conquistas como esta."

A homenagem se dá na semana do dia da independência argentina, 9 de julho.

A instalação do quadro, na Sala 1, anexo A, contará com a presença de autoridades da Câmara, dos ministérios, deputados nacionais e figuras da comunidade afrodescendente na Argentina, e será transmitida pelo canal de YouTube da Câmara dos Deputados, às 15h.

Edição: Rebeca Cavalcante