A Venezuela comemorou, no dia 24 de junho, 200 anos da Batalha de Carabobo - confronto decisivo para garantir a independência do país e dar início à liberação do continente das mãos da coroa espanhola. Depois de fundar a Gran Colômbia, que foi a união entre Colômbia, Equador e Venezuela, Simón Bolívar liberou o que hoje conhecemos como Peru e Bolívia.
Por isso, para esse bicentenário, o governo venezuelano convocou um Congresso dos Povos do Mundo, que busca debater os desafios de integração em um cenário de crise mundial. A atividade, realizada em Caracas, reuniu cerca de 340 pessoas de maneira presencial e outras 3.200 online, entre líderes políticos, ex-presidentes e representantes de movimentos sociais dos cinco continentes do mundo.
:: Leia o Manifesto do Congresso Bicentenario dos Povos ::
“Um ano icônico, simbólico para os venezuelanos e venezuelanas, delineado pelo comandante Hugo Chávez desde sempre. Um ano que representa a reafirmação do nosso compromisso com as causas justas de Bolívar e Chávez”, declarou o vice-ministro de Relações Exteriores para América Latina, Rander Peña.
“Necessitamos uma nação livre, e que o mundo seja livre. Hoje em dia, nós, filhos de Bolívar, de Chávez, filhos da história, nos encontramos para dar continuidade a esse ato heroico de liberação”, afirma o dirigente da Central Bolivariana Socialista de Trabalhadores, Jhonny Magdaleno.
Além de celebrar a data histórica, outro objetivo do Congresso é articular distintos setores em luta pelo mundo, propondo uma nova plataforma.
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“O grande capital internacional quer de novo criar uma internacional conservadora e impedir que os povos se unam. Pelo contrário, esse Congresso é muito importante porque é a construção de uma Internacional dos Povos. Dentro das suas diferenças, mas que se unam com projetos comuns contra um inimigo comum, que são os tubarões capitalistas”, afirmou a editora do Le Monde Diplomatique da Itália, Geraldina Colotti.
Para o ex-presidente Hugo Chávez, os anos entre 2011 e 2021 seriam a década de ouro da Venezuela, que marcaria o período entre o Bicentenário da independência do país e da Batalha de Carabobo, que representa a liberação dos povos latino-americanos. A expectativa era de que, nesse momento, o processo da Revolução Bolivariana estaria no seu auge, acompanhado de outros governos de caráter progressista na região.
No entanto, depois da primeira década do século XXI, considerada a “década ganha” pela ascensão de governantes de esquerda, a Venezuela esteve cercada de governos de caráter conservador, que fundaram o chamado Grupo de Lima.
“A luta contra o comunismo fracassou. Os movimentos sociais seguiram crescendo em todo o mundo. Então, o império inventou outro pretexto: o terrorismo. Os movimentos sociais e sindicais agora são acusados de terroristas”, declarou o ex-presidente boliviano Evo Morales.
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Para a jornalista Geraldina Colotti, a Venezuela se tornou o principal laboratório das táticas de guerra híbrida, que incluem o bloqueio econômico, guerra midiática e as medidas coercitivas unilaterais.
“É uma contrarrevolução preventiva para construir um novo consenso para uma sociedade disciplinada, necessária para uma economia de guerra. Esse é o motor da reconstrução de uma nova fase de acumulação capitalista”, afirma a jornalista e ex-guerrilheira italiana.
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Nos últimos seis anos, foram aplicadas 150 sanções contra os venezuelanos, que geraram um prejuízo de cerca de US$ 130 bilhões aos cofres públicos do país.
“Se podemos tirar uma conclusão neste momento é de que o capitalismo falhou como um sistema para a humanidade, e nós somos responsáveis por criar uma agenda de trabalho que nos permita consolidar ações concretas a favor do ser humano”, destaca o vice-ministro venezuelano.
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“A Venezuela tem uma contribuição importante, e este evento mostra isso: a união dos povos. A polarização hoje não é necessariamente entre um projeto de esquerda e direita, mas entre um projeto de vida e outro de morte. Aqui na Venezuela, faleceram 2500 pessoas pelo coronavírus, que é o mesmo número de mortes diárias no Brasil. A gente coloca um contraponto ao sistema capitalista neoliberal, com um governo que está preocupado com as medidas sanitárias, construído para o povo de fato”, finaliza Rudrigo Souza e Silva, brasileiro, membro da Coordenação Nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST).
Edição: Vinícius Segalla