anti-imperialismo

Opinião | A solidariedade internacional e a Revolução Cubana

Países, movimentos e partidos que buscam promover independência nacional e justiça social devem apoiar-se mutuamente

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
"O Brasil representa um caso especial de solidariedade com Cuba", diz Pedro Monzón
"O Brasil representa um caso especial de solidariedade com Cuba", diz Pedro Monzón - MST/Divulgação

A Revolução Cubana nasceu solidamente unida ao impulso radical pela independência nacional, justiça social e solidariedade internacional. É inconcebível que qualquer movimento progressista e de independência legítimo no mundo não tenha uma projeção essencial nessas áreas e, em particular, na solidariedade internacional, que, por sua vez, é impossível dissociar do anti-imperialismo.

O anti-imperialismo e a solidariedade entre as nações que desejam se tornar independentes para construir uma sociedade justa são necessidades essenciais em nosso tempo, pois esses processos sociopolíticos permanecem muito isolados. O desencadeamento de revoluções simultâneas não ocorreu, nem está previsto, de forma a encorajar alguns Estados a acompanhar outros e estabelecer um bloco fechado difícil de romper.

Em contraste, durante o período pós-guerra, o capitalismo avançou para uma globalização neoliberal agressiva liderada pelo imperialismo norte-americano, que conta com o apoio de outros países capitalistas e imperialistas ocidentais. É verdade que há sinais de crise do sistema capitalista e que ele avança para um mundo multipolar, de modo que o domínio unipolar é cada vez mais frágil. No entanto, o capitalismo continua a predominar, o imperialismo dos EUA ainda tem um controle global substantivo nos campos político, militar e financeiro, e exerce uma influência ideológica e cultural perniciosa.

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Em tais circunstâncias, os países que hoje representam sistemas alternativos de independência nacional e justiça social, e os partidos e movimentos sociais que lutam para alcançar seus objetivos, devem apoiar-se mutuamente para ter sucesso e se desenvolver. É por isso que a solidariedade anticapitalista e anti-imperialista são condições indispensáveis da luta revolucionária.

A política externa da Revolução Cubana sempre foi identificada com a solidariedade. Cuba apoiou a luta anticolonial e pela independência nacional na África, Ásia e América Latina. Há muitos exemplos: apoio à luta vietnamita contra a agressão ianque e ao povo porto-riquenho contra o colonialismo norte-americano; à luta anticolonial em África, em particular, pela independência de Angola e da Namíbia e pelo fim do apartheid na África do Sul. Um paradigma simbólico do internacionalismo que emana da Revolução Cubana é o representado por Che Guevara.

Cuba enviou professores a diferentes partes do mundo e promoveu o bem-sucedido sistema de alfabetização "Yo Sí Puedo". Muitos cidadãos vietnamitas, latino-americanos, africanos e norte-coreanos estudaram em Cuba.

Na saúde, o impacto foi muito especial. Mais de 600 mil profissionais desta área prestaram serviços solidários a populações humildes em mais de 100 países. Desde o triunfo da Revolução, Cuba formou dezenas de milhares de médicos das classes populares na Escola Latino-Americana de Medicina e recebeu mais de 25 mil crianças afetadas pela radiação dos acidentes de Chernobyl e Goiânia (Brasil).

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Cuba prestou serviços a vários países afetados pela pandemia por meio das Brigadas Henry Reeves contra Epidemias e Catástrofes Graves e desempenhou um papel crucial no desenvolvimento da Missão Milagros, que restaurou a visão de milhares de pessoas na América Latina e no Caribe.

Não é um fenômeno unilateral, o apoio solidário a Cuba tem sido muito importante. Na grande maioria dos países, desde o primeiro ano da Revolução, foram criadas inúmeras organizações e brigadas de solidariedade, sustentadas por mais de 6 décadas. Sua atividade se manifestou na luta contra o bloqueio econômico, comercial e financeiro dos Estados Unidos, no incessante esforço pela libertação do menino Elián, que foi sequestrado nos Estados Unidos; na campanha pela libertação dos 5 heróis, que sofreram longos e injustos confinamentos nas prisões dos Estados Unidos, e em muitas outras ocasiões.

O Brasil representa um caso especial de solidariedade com Cuba. Em quase todos os estados existem associações de amizade com a ilha. Essas associações unem praticamente todos os partidos e ONGs esquerdistas e progressistas, que deixam as diferenças de lado, para apoiar Cuba. A mídia alternativa brasileira, em sua maioria, oferece espaços importantes para a defesa de Cuba e dentro deles, o Brasil de Fato ocupa um lugar de destaque.

Todos têm sido ativos na promoção da verdadeira Cuba contra as notícias falsas da mídia e das redes sociais, cujas mensagens seguem fielmente suas fontes nos EUA. Nenhum dos movimentos de solidariedade se confundiu com a chuva de distorções que inundaram os canais de comunicação. Muitos se juntaram às brigadas de solidariedade que visitam Cuba anualmente e coletaram doações para suprir as grandes deficiências causadas pelo bloqueio.

Cuba não irá decepcioná-los. A Revolução cubana resistirá e continuará a progredir. Nossa solidariedade foi mantida e será mantida por mais difíceis que sejam as circunstâncias.

*Pedro Monzón é cônsul-geral de Cuba em São Paulo 

**Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Nicolau Soares