As investigações sobre a falsa acusação de furto de uma bicicleta elétrica, no bairro Leblon, na zona sul do Rio de Janeiro, da qual o instrutor negro de surfe, Matheus Ribeiro, 22 anos, foi vítima ganhou mais um capítulo no sábado (19). O jovem passou a ser investigado pela Polícia Civil por recepção de produto roubado.
No último dia 12, o caso ganhou repercussão nacional após Matheus ter sido acusado por um casal branco, Mariana Spinelli e Tomás Oliveira, de furtar uma bicicleta elétrica. O instrutor gravou com o celular a abordagem em frente ao shopping do Leblon e os acusou de racismo, o que iniciou a investigação policial.
Segundo a polícia, o crime foi cometido por um jovem branco chamado Igor Martins Pinheiro, 22 anos, que foi denunciado pelo Ministério Público no sábado (19). Ele possui 28 anotações criminais, sendo 14 por furtos a bicicletas e, quando foi preso, carregava na mochila um alicate de pressão, instrumento usado para cortar correntes. Igor pode pegar uma pena inicial de dois a oito anos de reclusão e multa pelo crime.
Segundo reportagem da Folha de São Paulo, em meio às apurações da denúncia de racismo, a Polícia Civil identificou que a bicicleta usada por Matheus era furtada, com base na comparação entre as chaves originais e a cópia usada pelo instrutor de surfe, "visivelmente adulterada de uma moto Honda."
"A bicicleta elétrica utilizada por Matheus Ribeiro foi apreendida por ser produto de furto e será devolvida ao seu legítimo proprietário", disse, em nota, a polícia. Em depoimento, o instrutor de surfe disse que comprou a bicicleta em um site de classificados online, mas não possuía nota fiscal, destacou a reportagem.
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Matheus pagou R$3600 pela bicicleta. De acordo com a Polícia, a pessoa que vendeu a bicicleta já foi identificada e também será investigada por receptação de produto roubado.
Em reportagem do Fantástico, na TV Globo, o instrutor de surfe disse que não sabia que a bicicleta elétrica que havia comprado num site era furtada.
"A gente nunca faria uma coisa desse tipo. Assim como a gente está lutando para brigar pela nossa inocência, que a gente não roubou uma bicicleta que é que foi o que aconteceu no momento passado, a gente também está dizendo a verdade agora. Se fosse uma bicicleta que a gente soubesse que foi roubada, a gente não compraria" disse ao Fantástico.
Solidariedade
Pelas redes sociais, figuras públicas se manifestaram sobre o caso. A deputada estadual Mônica Francisco (PSOL) mostrou indignação com a situação.
“A bicicleta tinha sido roubada por um jovem branco da zona sul. E agora, a Polícia Civil resolveu indiciar Matheus por receptação culposa pois a bicicleta comprada por ele foi furtada em Ipanema em 18 de fevereiro. Matheus já mostrou provas de que pagou R$3600 pela bicicleta (encontramos valor igual ou inferior a esse em 54 bicicletas do mesmo tipo), indicando inclusive o site onde a compra foi feita!”, escreveu a parlamentar.
A deputada ainda questionou se a investigação da polícia irá se estender aos donos do site.“A polícia vai investigar os donos do site onde Matheus fez a compra? Não! Vai investigar todos os produtos vendidos em sites na internet? O objetivo é realmente combater o crime ou apenas tentar provar que o casal não é racista por que um jovem negro com um produto caro realmente só pode ser um criminoso?”, afirmou em publicação pelo Facebook.
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A vereadora Tainá de Paula (PT) também usou as suas redes para se manifestar sobre o caso. “Matheus foi vítima de um crime: racismo. Seus algozes, os racistas do Leblon, não foram enquadrados no crime de racismo. O ladrão de bicicletas - branco, 'lourão' - foi liberado mesmo com 28 anotações criminais. Quem a polícia está investigando e incriminando? “, escreveu no Twitter.
Matheus foi vítima de um crime: racismo. Seus algozes, os racistas do Leblon, não foram enquadrados no crime de racismo. O ladrão de bicicletas - branco, "lourão" - foi liberado mesmo com 28 anotações criminais.
— Tainá de Paula (@tainadepaularj) June 20, 2021
Quem a polícia está investigando e incriminando? https://t.co/giwn7Wxonb
Fonte: BdF Rio de Janeiro
Edição: Jaqueline Deister