Desde janeiro de 2019, houve um aumento de 363% de área destruída pelo garimpo ilegal na Terra Indígena (TI) Munduruku, no sudoeste do Pará. O dado foi revelado por um levantamento do Instituto Socioambiental (ISA) divulgado no início do mês de junho.
Nos últimos dois anos, 2.274,8 hectares de floresta foram devastados pelos invasores do território indígena. O levantamento foi realizado a partir de dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
A média anual de degradação do território subiu de 365 hectares, entre 2017 e 2018, para 754 hectares no governo Bolsonaro, revelando um aumento de mais de 100%. O garimpo ilegal gera impactos ambientais, sanitários e culturais.
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O relatório também aponta que, nos dias que se sucederam à visita do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, em agosto de 2020, ao território, a terra indígena registrou mais de 200 hectares degradados.
A Terra Munduruku esteve presente nos noticiários quando, em 27 de maio deste ano, a Operação Mundurukânia, da Polícia Federal, desencadeou uma série de ataques na região de Jacareacanga, no Pará. Na cidade alvo dos invasores, o levantamento revela que o aumento da área destruída foi de 269%.
Informações sobre a operação vazaram, e garimpeiros clandestinos protestaram em frente ao aeroporto de Jacareacanga. Após serem dispersados com bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha, os mineradores subiram o rio em busca de lideranças indígenas conhecidas por denunciar os impactos do garimpo ilegal.
Em represália pela operação, os invasores incendiaram a casa da liderança Maria Leusa Munduruku e chegaram a "caçar" Ademir Kaba Munduruku, liderança indígena que naquela semana havia concedido uma entrevista ao programa "Fantástico" da Rede Globo.
Em nota divulgada em 26 de maio, o Movimento Munduruku Ipereg Ayu denunciou as ameaças que seguem circulando pela região. “Por defender o rio limpo e a floresta em pé, estamos sendo vítimas da política de morte desse governo, que nos deixa à mercê de garimpeiros armados dentro do nosso próprio território”, diz a nota.
"Além da negligência do governo federal no combate aos crimes ambientais e do enfraquecimento da fiscalização ambiental, outras medidas adotadas estimulam a escalada das invasões e garimpos ilegais", conta Antonio Oviedo, assessor do ISA. Ele as enumera:
“O aumento dos focos de garimpo está associado à diminuição na cobrança de multas pelo Ibama, disposição do governo em acatar pleitos de abertura das Terras Indígenas para a mineração, inação do Ibama contra o descumprimento da lei contra atividade madeireira ilegal, publicação de normativas que flexibilizam o licenciamento ambiental em TIs e outras tentativas formais de alteração do regime de proteção dos direitos indígenas”, enfatizou o pesquisador.
Edição: Vinícius Segalla