Apesar das arquibancadas estarem vazias por causa da pandemia de covid-19, foi a torcida que virou pauta no último mês de maio.
Após aparecer em um vídeo dançando o “tchaki tchaki”, no gramado do estádio do Sport Club do Recife, o economista pernambucano e ex-BBB, Gil Nogueira, sofreu ataques virtuais LGBTfóbicos dos membros do conselho do Sport Flávio Koury e Renan Valeriano.
Era a primeira vez que Gil entrava no chamado "Ilha do Retiro", visita sonhada, e que havia sido adiada, muitas vezes, por medo de represálias.
Depois dos ataques, torcedores LGBTQIA+ de diversos times, sentiram-se representados e trouxeram à tona o preconceito e as agressões que acorrem nas arquibancadas. Confira na reportagem:
Além de ser o país do futebol, o Brasil segue no topo dos países onde mais se mata LGBTs, uma população que se sente intimidada até na hora de ir aos estádios torcer pelo time do coração.
A integrante da torcida antifascista Brigada Popular Alvirrubra, do Clube Náutico Capibaribe, Alice do Monte, percebe o medo afasta muitos.
“A gente, como LGBT, não nasce predisposto a não gostar de futebol, não é isso. Futebol é um esporte que emociona as pessoas, a gente cria uma barreira porque é um ambiente hostil”, afirma a torcedora.
Um exemplo dessa hostilidade pode ser encontrado nas músicas criadas para animar a torcida que, muitas vezes, utilizam xingamentos para provocar a torcida adversária. As letras são ofensivas para LGBT’s, sejam eles torcedores ou não.
“Existem muitos cânticos homofóbicos, isso é um tipo de violência muito clássica, que fica introjetada na gente. Como é que eu vou me sentir à vontade, vou amar, vou me sentir bem em um espaço que eu sou violentada verbalmente? Às vezes até por amigos, que eu sei que me amam, mas por aquela emoção do jogo, vão lá, cantam alguma coisa homofóbica”, lamenta Alice.
Para mostrar que o futebol e a arquibancada devem ser para todos, todas e todes, diversos grupos têm se formado. Esse é o caso da Coral Pride, a torcida LGBTQIA+ do Santa Cruz.
“Eu acredito que a função em si, apesar dos problemas, é mostrar que aquele é o nosso ambiente, que a gente pode estar lá, a gente pode participar, não só as torcidas LGBT, como mulheres podem estar lá, pessoas pretas podem estar lá, sem ter que ouvir questões agressivas”, acredita Lucas Henrique, integrante da Coral Pride.
Infelizmente, esta ainda não é a realidade dos estádios. Lucas observa que, se identificar como LGBT nas arquibancadas, pode ser algo muito arriscado.
“Você já vê a diferença de tratamento, é um nível de você ser agredido pela própria torcida, você não pode nem estar ali, vendo o seu joguinho do seu clube. Você não pode nem estar ali!”, relata o torcedor.
Solidários ao caso de Gil, os jogadores do Sport entraram em campo, na disputa do primeiro jogo da final do campeonato pernambucano, no domingo 16 de maio, com o sobrenome “do vigor” na camisa. Essa foi a frase que virou marca registrada do ex-BBB no programa.
Apesar do pedido público de desculpas dos conselheiros, torcedores cobram um debate aberto sobre o combate à LGBTfobia em todos os clubes.
“Além de fazer um marketing para fora, para vender, os clubes de futebol precisam fazer um debate para dentro. Os clubes de futebol já passaram do momento de discutir sexualidade, e começar a entender que se o futebol é o esporte mais popular do mundo, todo mundo tem o direito de estar ali, inclusive a população LGBT que é enorme”, reivindica Alice.
“Eu estar na arquibancada, minha voz, meu grito, ecoa como qualquer outro; quem é sócia paga a mensalidade como qualquer outro, independente da sexualidade”, conclui.
A equipe do Brasil de Fato entrou em contato com a assessoria do Sport Club do Recife, que ratificou a nota publicada no dia do ocorrido, afirmando que o clube estaria tomando providências para que esse, e todo e qualquer ato de preconceito, seja penalizado. Confira a nota completa:
"O Sport Club do Recife é de todos. Gil do Vigor é e será sempre um legítimo representante das cores do Sport. Um clube plural, do povo. A maior torcida do Norte/Nordeste. Não segregamos quem ama o Sport. O amor que une nossa torcida ao clube é incondicional.
O Sport e o Conselho Deliberativo GARANTEM que estão tomando todas as providências para que esse e todo e qualquer ato de preconceito seja devidamente penalizado.
Obrigado Gil, por levar o nome do Sport pra todo o mundo. Pelo Sport Tudo!!!
Milton Bivar – Presidente Executivo
Carlos Frederico de Melo – Vice-presidente Executivo
Pedro Leonardo Lacerda – Presidente do Conselho Deliberativo
Gustavo Oiticica – Vice-presidente do Conselho Deliberativo"
Fonte: BdF Pernambuco
Edição: Monyse Ravena e Isa Chedid