Campanha pró-cloroquina e atraso na vacinação. Esses prometem ser os temas centrais da semana na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, que apura ações e omissões do governo no enfrentamento à pandemia.
A primeira a depor é a médica cearense Mayra Pinheiro, apelidada de "Capitã Cloroquina" por sua postura irredutível em defesa do medicamento, sem eficácia contra o coronavírus.
::Médica que vaiou cubanos em 2013 será a responsável pelo programa federal::
Secretária do Ministério da Saúde nomeada por Luiz Henrique Mandetta no final de 2018, Pinheiro deve falar aos senadores a partir das 10h desta terça-feira (25).
Quando o ministério, sob comando do general Eduardo Pazuello, ampliou as orientações para uso de cloroquina, até mesmo entre pacientes com sintomas leves, Mayra Pinheiro tornou-se uma espécie de porta-voz do "tratamento precoce". A cloroquina e a hidroxicloroquina, sem eficácia comprovada contra a covid, eram defendidas pela pediatra em entrevistas e postagens nas redes sociais, em alinhamento com a narrativa do presidente.
O depoimento desta terça pode ajudar a preencher um quebra-cabeça que vem intrigando os senadores. De quem partiu a orientação para o Ministério da Saúde comprar e distribuir comprimidos de um medicamento sem eficácia? Quem sugeriu alterar a bula do medicamento? Por que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) faz propaganda até hoje por sua utilização?
Atraso na vacinação
O segundo depoente da semana, conforme a agenda do Senado, deveria ser o ex-secretário executivo do Ministério da Saúde, Élcio Franco. Considerado um dos braços-direitos de Pazuello na pasta, ele deveria ser questionado principalmente sobre o atraso na aquisição de vacinas.
Como Franco afirma ter contraído a covid-19, o depoimento deve ser adiado. O substituto, na quinta-feira (27) pela manhã, será Dimas Covas, diretor do Instituto Butantan.
Com ele, o assunto também será a vacinação, mas sob outro ponto de vista. Em agosto de 2020, o Butantan pediu R$ 145 milhões para a Coronavac a Pazuello, mas foi ignorado. Ao todo, foram três ofertas do instituto com sede em São Paulo não respondidas pelo Ministério da Saúde.
Por ter liderado as negociações para produzir Coronavac no Brasil, Covas pode trazer elementos inéditos sobre a negligência do governo Bolsonaro e as tentativas de boicotar a vacina por sua origem chinesa.
No último dia 22, o diretor do Butantan entregou voluntariamente à CPI documentos sobre as três ofertas ao Ministério.
Até o momento, menos de 10% dos brasileiros receberam a segunda dose da vacina contra a covid.
::Dados de vacinação do governo federal têm discrepância de mais de 1 milhão de doses::
Edição: Rebeca Cavalcante