Após mais nove horas de interrogatório, acabou o segundo dia de depoimento do ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, à CPI da Pandemia. Durante a sessão, o relator da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), o senador Renan Calheiros (MDB-AL), requereu que uma equipe de checagem seja contratada pelo Senado para garantir que os depoentes se comprometam com a verdade.
“Tivemos uma primeira amostragem dessas contradições, inverdades e omissões. O depoente (Pazuello) em 14 oportunidades mentiu flagrantemente e ousou negar suas declarações. É a negação do negacionismo. Deve ser uma nova cepa. Negar tudo o que está posto, que a sociedade conhece, acompanha e se indigna, é tripudiar da CPI, imaginar que palavras são jogadas ao vento. Precisamos que se respeite essa comissão”, pediu Calheiros.
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À CPI, Pazuello afirmou que o governo federal não entregou remédios sem comprovação científica às populações indígenas. “Nós não distribuímos nenhum ‘kit covid' para nenhum DSEI (Distrito Sanitário Especial Indígena). Pelo contrário, a gente fez outras medidas", afirmou o ex-ministro.
No entanto, um documento emitido pelo DSEI de Vilhena (RO), no dia 15 de fevereiro de 2021, explicava que o governo federal distribuiu ivermectina “para a população maior de dez anos” e “kit covid para todos os indígenas que apresentaram sintomas.”
Outra contradição diz respeito ao caos no sistema de saúde no Amazonas. Na CPI, Pazuello afirmou que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) pretendia intervir e enviar ajuda ao estado nortista, mas que recuou após a recusa do governador Wilson Miranda Lima (PSC).
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Em nota, divulgada nesta quinta-feira (20), o governo do Amazonas afirmou que “nunca recusou qualquer tipo de ajuda” de Bolsonaro.
“Sempre pedimos a colaboração federal para auxiliar no combate à pandemia. Esse apoio foi ampliado com a instalação do Comitê de Resposta Rápida, formado por representantes do Governo do Estado, Governo Federal e Prefeitura de Manaus, para enfrentar a crise que se agravou no Amazonas no início de janeiro de 2021”, disse a nota.
"Ele fala de improviso"
Constrangido, Pazuello manifestou arrependimento por não usar máscara em um shopping center de Manaus. “O que acredito que causou isso tudo é a compreensão de que hoje sou uma pessoa conhecida, virei um homem público, e mesmo naqueles 8 metros fui fotografado. Peço desculpas.”, disse o ex-ministro.
Sobre a negociação de vacinas com o consórcio Covax Facility – o Brasil demorou para entrar no consórcio internacional –, Pazuello primeiro afirmou que o processo ficou sob responsabilidade da Casa Civil. Em seguida, pressionado pelos senadores, recuou e afirmou que participou da decisão e das reuniões, “junto a um colegiado”.
Por fim, o ex-ministro reconheceu que Bolsonaro se equivoca em manifestações públicas sobre a pandemia: “Não podemos esconder o sol com a peneira. Ele fala de improviso, de pronto, como ele pensa. E algumas coisas precisam ser corrigidas depois, precisam ser reconversadas.”
Edição: Rebeca Cavalcante