COVID-19

Três novas cepas identificadas no Brasil são mais potentes e transmissíveis

Mutações do SARS-CoV-2 foram detectadas em países que controlaram pouco a pandemia; Brasil é risco global, alertou OMS

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
P.1, P.2 e N9 são as três variantes do SARS-CoV-2 identificadas em solo brasileiro até o momento; cuidado com novas variantes é o mesmo desde o início da pandemia
P.1, P.2 e N9 são as três variantes do SARS-CoV-2 identificadas em solo brasileiro até o momento; cuidado com novas variantes é o mesmo desde o início da pandemia - Rovena Rosa/Agência Brasil

Vírus mais transmissíveis, que levam a quadros de infecções mais graves e afetam, inclusive, a jovens e crianças. Essas são algumas das características das novas variantes do coronavírus detectadas no Brasil.

A mais recente tem o nome N9 e foi identificada pela Fiocruz nesta semana. Outras duas, chamadas de P.1 e P.2, foram identificadas nos últimos cinco meses e já se espalharam pelo país.

Até a última quinta-feira (18), o Brasil registrou 2.724 mortos por covid-19, e o total de vítimas chegou a 287.499 desde o início da pandemia, em março de 2020. 

A Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou, na última sexta-feira (12), que o Brasil representa “um risco para todo o mundo”. 

“Certamente gostaríamos de ver o Brasil em uma direção contrária. O sistema de saúde do país está sob grande pressão. É preciso levar a situação a sério. O que acontece no Brasil tem consequências mundiais”, disse o diretor-executivo da OMS, Mike Ryan, à época.


Apesar de não haver comprovação de que sejam mais letais, sabe-se que as novas variantes infectam mais rápido e com maior intensidade, o que tem acelerado o número de internações e o colapso do sistema de saúde no país. Atualmente, 16 estados estão com mais de 90% dos leitos ocupados. 

"Essa variante [P.1] tem uma transmissibilidade até 8 vezes maior que a cepa original, e tem gerado uma doença mais grave, principalmente em jovens, que antes eram pouco comprometidos", explica Marcos Boulos, epidemiologista e professor da faculdade de medicina da USP.

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"Isso sobrecarrega mais o sistema de saúde porque os jovens, por terem uma resistência maior, ficam mais tempo na UTI. Há uma disponibilidade de leitos menor também por causa disso."

Integrante do comitê de contingenciamento do novo coronavírus no estado de São Paulo, o médico alerta que a situação é preocupante e que nunca havia presenciado algo parecido durante sua carreira.

"Eu já participei de muitas epidemias, aqui e pelo mundo, não só no Brasil, mas nunca tinha visto coisa parecida como a que estamos vivendo. Nós estamos numa situação dramática."

Novas versões mais perigosas que original

Variantes são novas versões do agente biológico original, que ao longo do tempo sofreu mutações devido a grande circulação entre as pessoas. Cientistas explicam que esse tipo de modificação já era esperada, pois a covid-19 é um vírus com alto potencial de mutação.

O problema é quando as novas versões são mais perigosas que a original. Após o surgimento dessas mutações, o número de óbitos cresceu 71%. Só na última semana foram registradas mais de 12 mil mortes por covid-19. 

Além do poder de contaminação maior, as variantes brasileiras também estariam levando pacientes internados por covid-19 a desenvolverem quadros mais graves de infecção, segundo Paulo Correa, pneumologista que atua em Belo Horizonte (MG).

"Quadros de encefalite viral, que não aconteciam antes, têm acontecido, assim como acometimento do miocárdico associado a covid-19. Encontramos pacientes com mais complicação bacteriana também. Então, o cenário atual é de extrema preocupação", alerta o especialista.

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Além do Brasil, países que pouco controlam a pandemia, como Reino Unido, Estados Unidos e a África do Sul, também detectaram mutações perigosas. 

A mais preocupante é a encontrada no país africano. A variante demonstrou ser resistente às vacinas. Contra a mutação identificada na África do Sul, a vacina da Oxford, por exemplo, teve eficácia de apenas 20%.

Vacinação lenta

O imunizante mais eficiente contra as novas variantes tende a ser a CoronaVac, produzida pela China. O motivo apontada é pelo imunizante ser desenvolvido com o vírus inativado como um todo, e não só com as cepas, onde justamente ocorrem as mutações.

Segundo o Governo do Estado de São Paulo, mais de 22 milhões de doses do CoronaVac já foram distribuídas.

Porém, com o ritmo lento da campanha de vacinação – apenas 5% da população brasileira foi vacinada –, os riscos de surgimento de novas variantes ainda mais perigosas são grandes.

Medidas restritivas

Para especialistas entrevistados pelo Brasil de Fato, a prioridade deve ser a contenção da propagação do vírus, com medidas de restrições de circulação de pessoas mais rígidas, como o lockdown, combinado ao apoio financeiro aos trabalhadores, como o auxílio emergencial.

"Nós não estamos fazendo isolamento. A variante nova está pipocando. E a gente tem um estudo pequeno, ainda muito inicial, para poder dizer que vai afetar a vacina", afirma o pneumologista Paulo Correa.

Sobre o uso de máscaras, o médico Marcos Boulos afirma que mais importante do que investir em modelos novos, como a N95 e PFF2, é garantir o uso constante do acessório de modo correto.

"Seja variante, seja o vírus original, ele vem acoplado à cutícula de saliva. Portanto, se você usar máscara, a gotícula de saliva não passa. Se você usar a máscara bem aderida, cobrindo todo o rosto, ela não deve passar", afirma.

"É necessário que a gente tome cuidado porque é uma doença que veio para valer. Se nós não tomarmos cuidado, em agosto teremos mais de 500 mil mortos no Brasil", projeta.

Edição: Poliana Dallabrida