Sars-CoV-2

Cientistas reforçam que cuidados com nova cepa são os mesmos do início da pandemia

Dificuldade de rastreamento da mutação do vírus da covid-19 sugere que a variante já tenha se espalhado pelo país

Brasil de Fato | Recife (PE) |
"Nós nunca controlamos realmente a transmissão do vírus. Se não fizermos isso, infectamos mais pessoas e eles têm mais chances de acumular mutações", aponta pesquisador - Prefeitura de Belo Horizonte

Um ano após a primeira morte pela covid-19 em solo brasileiro, a luta contra o coronavírus parece não acabar. O alargamento do tempo para combatê-lo faz com que a população tenha que lidar com outras mutações do vírus.

Desde janeiro deste ano, uma nova variante do Sars-CoV-2 circula no Brasil. Mais transmissível que as de outras linhagens do vírus, a nova cepa foi batizada de P.1 e identificada em 91% dos testes de covid-19 coletados em pacientes de Manaus, o que teria causado o colapso do estado no início deste ano.

Segundo o boletim epidemiológico do Ministério da Saúde, há registros de presença desta variante em 22 estados brasileiros e mais de 987 casos infectados.

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Em Pernambuco, existem, até o momento, dois pacientes infectados pela P.1. Os doentes vieram de Manaus para receber o tratamento no Hospital das Clínicas do Recife. Portanto, não existem dados que comprovem a circulação desta variante, nem tampouco a transmissão comunitária dela no estado.

Entretanto, Gabriel Wallau, biólogo molecular e pesquisador do Núcleo de Bioinformática do Instituto Aggeu Magalhães da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em Pernambuco, sugere que muito provavelmente exista a presença da P.1 no estado. O motivo apontado é a dificuldade em se conseguir acompanhar o real cenário da pandemia.

“Se o vírus já espalha facilmente, imagina tendo uma linhagem ainda mais transmissível. Essa linhagem surgiu no final de novembro e início de dezembro em Manaus. Desde aquela época, voos entre estados e até internacionais estavam ocorrendo. Com isso, é esperado que essa linhagem se espalhasse por todo o país e já esteja por aqui também faz tempo”.

Para detectar a linhagem do vírus e o seu alcance de forma precisa, é necessário sequenciar o genoma específico de cada infectado. Ou seja, é preciso um estudo massivo do DNA do vírus das pessoas que testaram positivo para a covid-19 em todo país.

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“A dificuldade da detecção é que, quando as variantes surgem, precisamos sequenciar o genoma dessa linhagem e adaptar os nossos métodos que antes funcionavam muito bem para as antigas, mas que precisam funcionar para esta nova. Precisamos continuar sequenciando de forma massiva, principalmente aqui no estado”, defende Wallau.

A equipe de reportagem do Brasil de Fato Pernambuco entrou em contato com a Secretaria de Saúde do Estado para ter acesso as medidas de acompanhamento e testagens referentes à nova variante, mas não obteve retorno até o fechamento desta matéria. 

Brasil se tornou "laboratório do vírus"

Gabriel Wallau explica que as mutações são processos normais dos vírus, mas que a consequência é de ainda mais dificuldades de imunização e erradicação da doença.

“Qualquer organismo acumula mutações ao longo do tempo. Isso é normal, e não é restrito do Brasil. Mas nós damos mais possibilidades para que isso aconteça, porque temos um pífio controle da pandemia. Não adotamos medidas corretas e a transmissão do vírus sempre ficou bem acima do que se esperava para poder controlar a pandemia."

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O pesquisador afirma que a situação do Brasil está repercutindo em todo o mundo. "Nós nunca controlamos realmente a transmissão do vírus por aqui. Se não fizermos isso, infectamos mais pessoas e eles têm mais chances de acumular mutações. O Brasil está sendo visto como um laboratório do vírus devido a essa ausência de controle efetivo”, explica.

Cuidados são os mesmos

Ainda não há consenso científico sobre quais os sintomas da nova variante e se há a necessidade de implementação de medidas de prevenção específicas.

Segundo o médico Infectologista do Hospital Oswaldo Cruz, Bruno Ishigami, o que se sabe até o momento é que a P.1, além de ser mais transmissível, é mais letal. O médico aponta que os cuidados com a nova variante continuam iguais desde o início da pandemia.

“O que tenho dito é que precisamos melhorar a qualidade das máscaras que estamos usando. Usar as do tipo PFF2 e N95 se você frequenta ambientes com grande circulação de pessoas. Por exemplo, se você vai ao supermercado, ao consultório médico ou utiliza o transporte público, tem que usar uma máscara com mais qualidade. Além disso, o isolamento social é fundamental”, pontua.

Sobre quais seriam as saídas possíveis para o momento, Ishigami defende respeitar as medidas sanitárias, a concessão de auxílio emergencial e a vacinação. “A saída da pandemia é na coletividade. Se continuarmos defendendo os direitos da população como um todo, vamos sair da pandemia”.

Fonte: BdF Pernambuco

Edição: Vanessa Gonzaga e Poliana Dallabrida