Enquanto a segunda fase da vacinação avança em Curitiba, 943 trabalhadores do Hospital de Clínicas ainda aguardam a primeira dose do imunizante contra a covid-19.
São 181 técnicos administrativos que trabalham presencialmente, 71 que estão em trabalho remoto e 16 que estão de licença; 382 terceirizados de diversas categorias, como copeiras, eletricistas, vigilantes e almoxarifes; assim como 295 alunos em estágio regular.
Segundo as determinações do Plano Nacional de Imunização (PNI), trabalhadores e trabalhadoras da saúde deveriam ter sido imunizados com prioridade, antes mesmo da vacinação dos idosos.
Na última sexta-feira (12), os profissionais que ficaram de fora da vacinação organizaram um protesto no pátio em frente ao hospital. Cartazes com os dizeres "fomos esquecidos" e "os sem vacina do HC" foram empunhados pelos manifestantes.
De acordo com o Sindicato dos Trabalhadores em Educação das Instituições Federais de Ensino Superior no Estado do Paraná (Sinditest-PR), que representa os técnicos administrativos do complexo hospitalar, a situação dentro da instituição é grave.
Segundo levantamento extra oficial, ao menos 20% das equipes já foram contaminadas com o vírus, e muitos acabaram não resistindo.
"A Secretaria Municipal de Saúde não cumpriu a vacinação no HC. Começou a segunda fase sem ter vacinado trabalhadores de vários setores técnicos administrativos", explica Evandro Castagna, coordenador do Sinditest-PR.
"Muitos que trabalham no atendimento à comunidade, no administrativo, no almoxarifado e terceirizados que não receberam a primeira dose. Trabalhando dentro de um hospital, correm risco de contaminação", avalia Castagna.
"Mas, além de cobrar do município, sabemos também que o governo federal tem atuado de forma irresponsável, tratando a pandemia como algo inferior, aliado ao governo estadual totalmente submisso."
Em busca de respostas, o sindicato enviou um ofício o Ministério Público do Paraná cobrando esclarecimentos sobre a demora para a imunização total do quadro de trabalhadores lotados no complexo do Hospital de Clínicas.
Em resposta ao ofício, o MP sugeriu que fosse a Secretaria Municipal de Saúde procurada para prestar esclarecimentos, "visto que aqueles profissionais que claramente se enquadram no protocolo atual estão sendo vacinados" e que ainda estaria sob análise "aqueles cujas condições laborais ocasionam dúvidas sobre a real necessidade [de vacinação] no atual momento."
Flávia Celene Quadros, Secretaria Municipal da Saúde de Curitiba, confirmou que os profissionais do Hospital das Clínicas estão no grupo da primeira fase, mas que nem todos serão vacinados por falta de doses. "Até que exista uma regularidade no fornecimento de doses de vacina, não temos como manter o cronograma de vacinação."
Trabalhadores dizem terem sido abandonados
Esta situação, que se arrasta há quase um mês, tem provocado desânimo e incertezas entre os profissionais. Alguns, inclusive, afirmam que não retornarão ao trabalho presencial enquanto não forem imunizados.
Presente no protesto, uma assistente administrativa do Hospital de Clínicas que trabalha no setor de Residência Médica se diz indignada.
"Todos estamos expostos no hospital. Ficamos o tempo todo com esperança que seríamos vacinados, mas fomos abandonados. Inclusive eu peguei covid-19 e outros colegas também."
Para um técnico que trabalha na área de suprimentos do HC, todos estão suscetíveis ao vírus dentro daquele ambiente. "Falam que todos foram vacinados, que todo o hospital está imunizado, mas é uma mentira. Estamos todos em risco de se contaminar e trazer o vírus. Por que os chefes do setor foram vacinados, mas os funcionários não?", questiona.
Na última sexta (12), o prefeito de Curitiba Rafael Greca (DEM) anunciou a adoção de lockdown na cidade até o dia 21 de março. Com a medida, Curitiba entrou na bandeira vermelha, que representa grau de alerta de alto risco e medidas mais restritivas no enfrentamento contra a pandemia do novo coronavírus.
Fonte: BdF Paraná
Edição: Gabriel Carriconde e Poliana Dallabrida